Nossa colcha de retalhos
Natureza

Nossa colcha de retalhos


(imagem daqui)


Genteee, ficou ótimo o nosso conto e acho mesmo que muito melhor do que qualquer coisa que certos escritores (inclusive um que é muito festejado lá fora, e que não consigo gostar de jeito nenhum) escrevem e ganham riooos de dinheiro!


Acho que valeu a pena cada um ter colocado aqui um pouquinho de suas palavras, ajudando a tecer esta colcha de retalhos literária, composta de imaginação ou lembranças.

Agora, precisamos de um título para este conto feito à tantas mãos. Podem deixar seus 'pitacos' que em breve será editado na íntegra para que todos vejam que uma simples idéia pode gerar uma estória que acaba nos levando a outros mundos, onde às vezes nunca estivemos ou nas profundezas ocultas de nossa alma.
Como diz o grande escritor Orhan Pamuk (Neve e Meu nome é Vermelho):

"E são esses os momentos em que sentimos a presença da humanidade, da compaixão, da tolerância, da piedade e do amor no nosso coração: porque a grande literatura não se dirige à nossa capacidade de julgamento, e sim à nossa capacidade de nos colocarmos no lugar do outro."

....../......

ONTEM, HOJE, AMANHÃ AZUL

E lá estava eu a contemplar entretida as bolhinhas de sabão multicores que subiam no ar e estouravam por qualquer coisinha. Frágeis como a vida daquele menino que soprava num canudinho e ria ao mesmo tempo em vê-las levitando na frente do seu nariz. Eu também sorria e me lembrava dos dias, em que brincadeiras como esta, simples e criativa, me faziam passar o tempo e achar que a vida era como uma bolinha de sabão, brilhante, leve e divertida.
Naqueles tempos, as brincadeiras eram entremeadas com as lições de casa que minha mãe observava de longe, sempre atenta às minhas dispersões com alguma coisa que estivesse ao alcance das minhas mãos ou dos olhos e que me fariam tirar a atenção do caderno.
Os dias eram longos, mornos e ensolarados. Tempestades só mesmo nos verões abrasadores e sem ar condicionado, aquilo sim era verão!

Diante daquela cena, me reconectei aos verões da minha vida.
Ah! Se eu pudesse revivê-los só mais uma vez!
Se eu pudesse assistir novamente o sol se pôr naquele fim tarde cheio de promessas de amor!
Noite anunciando estrelas... uma aqui, outra ali num desvendar ofuscante de mistérios... Lua crescente no horizonte.
Meu caminhar solitário despertava canções.
Minha mente bailava em um canto lírico.
Meus olhos curiosos contemplavam a transformação dos tons de azul no céu.
Chega um momento em que dia e noite se confundem... se unem... se tornam um, como dois corpos invisíveis desfrutando o gozo do amor em frações de segundos que duram uma pequena eternidade.

As noites de verão são deliciosas de se dedilhar. São noites mágicas de canções próprias.
Agora compreendo o canto intenso e passional das cigarras ao anunciarem os raios de sol vindouros!

E o menino franzino continuava ali, sentado na calçada da pracinha, brincando com suas bolhinhas de sabão...
Na minha contemplação compreendi que ele sorria não apenas admirado pela leveza das bolhas, ele enxergava além. Em sua inocência e olhos acostumados com o fantástico, ele imaginava que em cada uma delas habitava uma fada de asas azuis...

Essa fadinha de asas azuis, era a mesma dos seus sonhos, todas as noites enquanto todos na casa dormiam, somente ele poderia vê-la e ouvi-la em seus sonhos, era sua melhor amiga.
E todos os dias eles tinham um encontro marcado; com ela, ele voava sobre as nuvens, ouvia claramente o canto dos pássaros, sentia em suas mãos a água limpida e pura daquela cachoeira mágica.
Aquele mundinho em que ela vivia, o fazia renascer a cada manhã e com perspectivas cada vez maiores, em transformar sua geração, na geração do perdão, do amor e da plena vida.
Com seus pensamentos, embora distantes, continuava o menino, alí com suas bolinhas de sabão

E a fada azul era eu... e aquele menino sentado na calcada brincando com a bolha de sabão era meu filho, naquela doce idade onde as criancas acreditam que suas maes sao fadas ou ainda mais doces e lindas do que as fadas.

Meu coração se aqueceu e eu fiquei imaginando os verões futuros... quantos ainda se passariam até ser ele alí naquela praca a admirar seu filho observando a leveza das bolhas de sabão?

E essas fadas faziam parte da sua vida. Com elas, brincava, criava, sonhava e jamais imaginava que um dia esse sonho terminasse. As bolinhas, na sua fragilidade, podiam estourar, mas as fadas ali estavam para fazer parte de outras bolinhas, para permanecer com ele, e para manter seus sonhos.

As fadas acalentavam os seus sonhos de um dia ver toda a sua familia unida novamente. Enquanto soltava as bolhinhas de sabão, ele imaginava como era doce o tempo em que podia conviver com seu pai e sua mãe, dando-lhe carinho, instrução, muitas broncas por tudo que ele aprontava. Sim, porque era um garoto bom, mas adorava aventuras. Sorria ao lembrar-se do dia que, contrariando a mãe, seguiu escondido, os seus irmãos mais velhos até a beira de um rio que não ficava muito longe de sua casa.
Por pouco não morreu afogado, pois, foi atrás do irmão que começava a nadar, não se importando com o fato de que ele (o irmão) era um tanto mais alto e achando que "daria pé", foi até ele. Começou entrar em desespero quando se viu afogando e descendo o rio, pois tinha correnteza. Por ironia do destino, seu irmão nao sabia nadar também, e só ia até onde conseguia manter-se de pé.
Naquele momento, mesmo em sua inocência e poucos anos de vida, pediu a Deus que enviasse um anjo, uma fada, alguém para lhe salvar.
E ela apareceu...uma moça simpática que lavava roupa na beira do rio, vendo aquele bando de crianças desesperadas pedindo socorro enquanto uma outra se afogava, nadou ate puxá-lo pelo cabelo e resgatou para a margem.
As fadas, pensa ele olhando as bolhinhas, nem sempre são como as dos contos. São pessoas boas que aparecem na hora que mais precisamos.
Neste momento, sua familia está despedaçada, com pai e mãe agredindo-se e disputando a sua guarda. Ele imagina que um fada aparecerá para resolver isso, porque o que mais quer, são os pais juntos novamente.

Meus dias de verão ensolarado foram muitos. Agora, olhando o menino que se divertia soprando as bolhas de sabão, seguia uma e outra, na sua subida no ar, antes de se explodir. Cada uma tinha um colorido, conforme minhas lembranças. Uma cor de rosa, como foi a minha infância e como deviam ser todas as infâncias. Outra azul, como o mar calmo que sempre busco em meus sonhos. Mais uma, esta verdinha, da esperança que tive de que sempre minha vida fluisse leve pelos ares, mas não frágil como a bolinha de sabão. Uma escurinha, meio negra, ah! não...é apenas o reflexo do asfalto. Agora ela subiu mais e está branca, refletindo as nuvens. Ou me dando uma nova chance de reescrever a minha história.

Lá estava meu irmão,mais novo seis anos que eu,maravilhdo com bolinhas que saíam daquele bocado de cana.
Sentado na minha bicicleta,pasta da escola pronta,esperava o meu vizinho Vitó a quem ia dar boleia para a Escola.
Nesse dia,mapa à frente,estivemos a aprender a existência dos diversos países do planeta,suas capitais,suas principais riquezas e hábitos dos seus povos.
Tal como as bolinhas de sabão,a nossa também foi uma "viagem" maravilhosa.

E ele começou a pensar e amadurecer suas idéias, sempre com o olhar de esperança de um mundo melhor, onde aja sempre amor, luz, fé em Deus e que na realidade existem fadas e existem anjos, que são pessoas diferentes de nós, pessoas de outros lugares, outras estações mas que possuem uma semelhança, um coração puro, dócil e disposta a ajudar um menino, uma menina, ajudar, somente ajudar!
Ele queria a noite, mas ainda era cedo, porque quem sabe a fada amiga apareceria e o ajudava, mas falta muito até o anoitecer.
Resolveu voltor a pracinha, e começou a assoprar novas bolinhas, mas reparou melhor, via que elas íam de acordo com o vento, umas estoravam, outras simplesmente sumiam, bolinhas de pai e mãe, nem sempre ía na mesma direção, mas era preciso, só assim, talvez, eles se sentiriam felizes, pode ser que um dia houve amor, pode ser que não, mas deles tem um fruto e esse fruto era ele, aquilo os unia para sempre e o amor com o menino não ía mudar, porque hoje eles não querem mais ficar juntos.
E ele, assoprou mais bolinhas, umas maiores, outras menores, outras que nem formadas, já sumia...
Bolinhas numa tardinha de sol, tempo fresquinho, ares de esperança.
Naquela cena, posso me emocionar e lembrar de minha vida também, o menino vai crescer, estudar, formar família e desejamos que seja para sempre, mas nem sempre é possível.
A vida nos prega peça, mas muitas dessas peças, somos nós os culpados e gente precisa viver, precisa continuar, a vida não vai parar para que a gente conserte nossos problemas, é preciso levantar, erguer a cabeça, seguir em frente, pode ser que no caminho, alguém precise de nós.
E ele viu, que ama seus pais, que são duas pessoas, que quer vê-los felizes, juntos ou separados e que não podemos viver com alguém sem amor, ou porque é a vontade dele.

E o menino continua pulando atras das bolinhas de sabão, esticava as mãozinhas para poder alcançá-las. A cada bolinha que estourava, ele vibrava, uma pequena parte do líquido caia em seus olhinhos, que mesmo ardendo sorriam.
Ele usava um macacão jeans e em cada bolso havia figurinhas, balas, moedas e pedacinhos de linha. No bolso que ficava entre seu peito tinha lugar para um passarinho que ele havia adotado como seu melhor amigo.
Eu assistia a tudo sentanda naquele banco da pracinha, via aquele menininho pulando, pulando, correndo e se divertindo.
Minhas lagrimas estavam prestes a cair, eu sabia que ele era meu filhinho que ainda habita em meu ventre e que logo mais estara aqui conosco, pulando, pulando, pulando e fazendo de nossas vidas uma alegria sem fim.
Fazia força para não acordar daquele sonho, queria ver seu rostinho mais uma vez, mas o despertador tocou e eu despertei.
Despertei naquela manha de verão e sentindo que o dia seria lindo, e a cada fechar de olhos via o meu menino pulando e suas bolinhas voando naquele céu azul que acabara de nascer.

E foi nunca esquecendo desses momentos infantis e inocentes que os repeti com minha cria, o que me fez compreender o que Milton Nascimento quis dizer com essa música:

Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão

Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão

E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal

Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão...' (Bola de meia, Bola de gude)






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