Cuidar sim, discriminar não.
Natureza

Cuidar sim, discriminar não.






Às segundas-feiras, os salões de cabeleireiros não costumam abrir aqui na cidade, acho que em todo Brasil, geralmente trabalham muito até aos sábados e só abrem na terça-feira.  Mas existe um salão que abre sempre de segunda a domingo e tem vários turnos e fica num Shopping aqui próximo ao meu bairro e isto é ótimo para quem precisa cortar ou fazer qualquer coisa num salão num final de semana ou, alguém como eu, que quando cisma que tem que fazer algo na cabeça tem que ser no mesmo dia e hora que 'dá na telha'.  E lá fui eu hoje à tarde para este salão do Shopping.

A moça que me atendeu e fez minhas luzes já é minha conhecida de outras vezes e é super gente boa, delicada e de fala mansa.  Depois de alguns minutos, seu ajudante me serviu um delicioso cafezinho com direito à água gelada e biscoitinho amanteigado.  Uma delícia de café!

Quando ele foi lavar minha cabeça, ao meu lado apareceu uma mulher, mais ou menos 60 anos e muito simpática, conversando com ele e com a cabeleireira que estava ali também por perto, enquanto o rapaz lavava cuidadosamente meus cabelos.  E foi aí que ele perguntou a esta mulher se ela vendia o tal café servido ali no modo avulso.  Ela traz o café semanalmente ou mensalmente, não sei bem, mas segundo ela o informou o café é da torrefação de seu irmão que tem uma fazenda e produz lá mesmo o tal delicioso café.  E ela começou a destrinchar os lugares famosos do Rio onde ela vende e entrega pessoalmente, inclusive a Academia de Letras, Café da Saraiva, Bistrôs, etc.  E não vendia em pequenas quantidades, só em pacotes grandes como aquele que estava trazendo naquela hora para o salão.

Aí, a cabeleireira disse assim para ela:  Ah, sempre quem vem aqui é seu filho, não é?   Ao que a mulher respondeu que sim.  Então a cabeleireira emendou: Mas ele entra aqui, entrega, recebe e sai correndo sempre, não fala com ninguém.
Para minha surpresa e das pessoas que estavam ali em volta, a mulher respondeu naturalmente:  Ah, meu filho é esquizofrênico!  Mas, ele é medicado e trabalha comigo fazendo as entregas e recebendo.

Neste ponto, o rapaz auxiliar já tinha acabado de lavar meus cabelos e me conduzia para outra cadeira a fim de secá-los.  Nisso, a cabeleireira voltou a mexer nos meus cabelos e comentou comigo baixinho, que ficou espantada com o modo natural que aquela mãe falou do problema mental de seu filho, assim tão abertamente.

Eu concordei, mas não pude deixar de fazer uma observação interessante, dizendo a ela que isto era um bom sinal, afinal ela agindo assim, de forma tão franca e honesta ao falar de seu filho, fazia com que as pessoas o vissem por outro ângulo, ou melhor, no sentido de que aquele rapaz estava inserido na sociedade, trabalhando e levando uma vida feliz e produtiva.  Coisa que toda família de pessoas com transtornos mentais como aquele, se encarasse o fato, não escondendo, nem sentindo vergonha, ajudará em muito para que a pessoa tenha uma vida sem barreiras e sem estigmas ou rótulos negativos. Não devemos esquecer que hoje existem muitos medicamentos que auxiliam no tratamento dessas pessoas.

Foi isso que pude notar naquela mulher, mãe e trabalhadora - que seu filho era um ser humano amado e respeitado e suas palavras acabaram por ajudá-lo mais uma vez, pois assim as pessoas agora entenderiam quando ele entrasse com seu jeito apressado e sem conversas, mas sabiam que ele estava ali trabalhando e superando-se nesta complexa vivência de um esquizofrênico.

Infelizmente, mesmo no século XXI ainda vemos o preconceito reinar com relação à certas doenças da humanidade, muitas vezes a própria pessoa que é portadora também o é, retraindo-se e abstendo-se do convívio na sociedade, mas temos que entender que nenhuma pessoa é igual a outra e reconhecendo assim, estaremos compreendendo e respeitando os diferentes.











Leia e se informe mais sobre Esquizofrenia aqui.



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