Natureza
Crônica de humor carioca
(imagem Corbis)
Nestes dias de carnaval, algumas pessoas, como eu por exemplo, buscam o prazer do descanso, da leitura, do cinema e da tranquilidade. Deixei a folia do Rio para o filho que é jovem e ainda não viu tudo e está louco para ver e conhecer as delícias do carnaval de rua e o barulho dos tambores que mexem até com quem é muito tímido.
Então, hoje já vi o belíssimo filme ganhador do Oscar - O discurso do Rei - já visitei amigos, comi a pizza deliciosa no restaurante predileto e agora à noite descobri, num cantinho do escritório, um livro que há tempos já li e que valeu a pena relembrar algumas crônicas daquele que foi um grande jornalista, radialista, teatrólogo, humorista, publicitário e compositor brasileiro.
Stanislaw Ponte Preta era seu pseudônimo e como ficou conhecido para sempre, seu nome verdadeiro era Sérgio Porto e suas crônicas satíricas e críticas à época da ditadura militar que, inteligentemente fazia piadas corrosivas contra a mesma e ao moralismo social vigente nesta época.
Morreu cedo, aos 45 anos de infarto, mas deixou suas marcas em crônicas deliciosas como esta que transcrevo abaixo:
A velha contrabandista
Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da Alfândega - tudo malandro velho - começou a desconfiar da velhinha.
Um dia, quando ela vinha de lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:
- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu:
- É areia!
Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia.
Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.
Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.
Diz que foi aí que o fiscal se chateou:
- Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.
- Mas no saco só tem areia! - insistiu a velhinha.
E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs:
- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?
- O senhor promete que não "espáia"? - quis saber a velhinha.
- Juro - respondeu o fiscal.
- É lambreta.
* Não deixem de ler mais sobre este incrível carioca, Stanislaw Ponte Preta, aqui.
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