Vou de Táxi - I
Natureza

Vou de Táxi - I




Eu já contei aos amigos que não tenho sentido mais vontade de dirigir meu carro, culpa talvez do enorme entrave que encontramos pelas ruas hoje em dia, com tantos carros e confusões de trânsito e acabo ficando totalmente estressada. E, com isso passei a utilizar cada vez mais o serviço de táxis aqui na cidade onde moro.  Se vou, por exemplo, ao dentista uma vez na semana, quase sempre pego um ônibus que faz ponto bem perto de minha casa, com ar condicionado e musiquinha ambiente e vou sentada, e na volta sempre entro num táxi e venho tranquila, olhando pela janelinha a paisagem e a confusão de sempre no tráfego e conversando com o taxista.

Taxistas são figuras algumas vezes insólitas, alguns grosseiros ou caladões e outras vezes muito humanas, principalmente aqueles que têm educação e lutam pelo seu sustento, fazendo a diferença no atendimento, e isso se aplica também aqueles que cuidam do seu instrumento de trabalho que é o próprio carro. E eu só faço sinal ou entro num desses, se tiver com a aparência em dia, pois já tive a coragem de dizer não algumas vezes a motoristas que trafegam com carros sujos, sem cinto de segurança e o carro velho, porque já que estou pagando, exijo entrar numa viatura que seja limpa e organizada para não correr risco de vida por aí.  Eu posso parecer chata, mas como entrar num carro que tem os vidros todos escuros e sem a gente possa visualizar quem o está conduzindo, ou com os pneus carecas, lataria amassada ou enferrujada e um monte de irregularidades, como anda cheio e vemos pelas ruas?  Não, entro não!  E quem entra não tem amor à vida.
Espero e sempre vem um logo atrás, pois táxis por aqui tem aos montes.

E nestas minhas idas e vindas em táxis, tenho colhido alguns papos interessantes para uma série que vou lançar hoje por aqui e que darei o nome de Vou de Táxi  parodiando a musiquinha antiga da Angélica.
Serão breves conversas que perfazem um trajeto quase sempre de 10 a 20 minutos aqui dentro da cidade em que moro. Então, senta que lá vem estória!

 

A culpa é do Guanabara

Boa tarde, vamos para o centro na rua Olavo Bilac, no final dela, por favor!
\ Sim, senhora.
Nossa, mas como o trânsito está difícil hoje! Parece que a cada dia piora mais e mais isso aqui!
\ Ah, mas isso é culpa do Guanabara!  Estas duas últimas semanas tem sido assim, este inferno nas ruas.
Como assim, o senhor está falando do supermercado?
\ Sim, esse mesmo, que faz aniversário todo mês.
É mesmo, agora virou moda aniversário de loja e propaganda com promoção para a data!
Mas, poxa, isso é muito sério!  Uma cidade fica com o tráfego pesado ou interrompido por conta do aniversário e promoção de um supermercado!  Isso é caso para Ministério Público, o senhor não acha?
\ Ah, mas anteontem eles foram proibidos, mas ontem mesmo conseguiram uma liminar e voltaram a fazer
a tal chamada para as vendas de promoção.  O reflexo no trânsito vai longe, são quilômetros de engarrafamento, porque vem gente até de outras pequenas cidades para aproveitarem as tais promoções.
Ué, mas o povo ainda faz estoque de comida ou outras coisas como antigamente!  Eu vou umas duas vezes na semana, geralmente em supermercados pequenos, compro o que preciso e não estoco mais nada, não vejo necessidade disso.  E o senhor, foi lá?
\ Eu! Nem morto! Mas, a senhora não sabe como o povo adora essas coisas de promoção, né?!  Um colega passou-me um rádio ontem dizendo que estava trazendo uma mulher de Itaboraí para Niterói para visita a um médico, mas ficou tanto tempo parado no trânsito que desistiu e deram um jeito de retornar sem chegar à cidade.
E a senhora não vai acreditar, ontem recebi um chamado para pegar uma pessoa em Maricá. Quando cheguei lá, era uma senhora de 83 anos, entrou no táxi, com duas sacolas grandes nas mãos e disse pra mim  - toca pro Guanabara em Niterói!
Quase eu digo a ela que não, que não ia mesmo. Tentei convencê-la a não ir pra lá, disse-lhe que estava um caos para chegar até a porta do estacionamento do mesmo, mas não adiantou, ela não desistiu e disse assim: o senhor pode me deixar até um pouco antes, mas toca pra lá, não posso deixar de ir.
Ah, não acredito moço!  O que uma velhinha de 83 anos iria comprar num gigante daqueles? (morrendo de rir)
\ Bem, ela disse que tinha que levar dinheiro para a filha e algumas sacolas e que o preço do leite em caixinha estava maravilhoso e ela iria comprar para ela, para a filha, para o filho, para os netos, para toda a família.
Esse pessoal tem família grande, comem demais, estocam mesmo e com uma promoção dessas!
- Tem razão! E o senhor conseguiu chegar até lá?
\ Deixei a dona na porta do estacionamento detrás do supermercado, um lugar até perigoso onde tem uma penitenciária.  A velhinha saltou e eu ainda disse a ela para ter cuidado por ali e olhasse se vinha algum carro saindo do estacionamento. E lá foi ela, com as bolsas grandes para dentro daquela enorme confusão.
Nossa, que absurdo!  Pois é, mas pode ser que a pessoa tenha também um mini-mercado ou algum negócio numa cidadezinha qualquer e sempre é bom comprar em grande quantidade, né?
\ Ah, isso é verdade!  Mas, fazendo as contas, aquela senhora gastou muito em táxis para ir e voltar pra casa, será que valeu a pena tudo isto? Sei não!
Ai moço, como está confuso, acho que chegarei atrasada no dentista!
\ Não, daqui a pouco desafoga um pouco e a gente chega a tempo, pode deixar. (e corta daqui e dali, chegando na hora certa)
Ufa! Que bom, o senhor é ótimo motorista!
\ Obrigado!  Mas, teria sido mais rápido se a culpa não fosse do bendito Guanabara. E ano que vem tem mais aniversário, heim!
- Ano que vem nada! Daqui alguns meses eles inventam outro aniversário, pode apostar. Tchauzinho!


 


Para comprovar o nosso diálogo, vejam a reportagem ao lado - CLIQUE AQUI.










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