Definitivamente não sou daquelas pessoas que passam pela vida sem observar à minha volta, estou sempre antenada ao comportamento humano e suas variantes, à natureza e suas mudanças , à música que é um elemento forte em minha vida sempre e gosto de tê-la em meus dias, às flores e bichinhos que tenho em casa e pelos caminhos onde ando. Mas, se você me perguntar se eu observei que uma pessoa tinha ou não varizes finas nas pernas ou a cor do esmalte que usava, sinceramente, não sou muito observadora neste nível e até passo vergonha às vezes por não ser muito boa fisionomista, esqueço facilmente de alguém se não vejo sempre ou se o rosto não for muito expressivo.
Como estou sempre a observar daqui e dali, vi esses dias uma senhorinha bem pequena, quase anã, próxima dos 80 anos, um pouco curvada e acompanhada do netinho que não tinha mais que 5 anos, fazendo juntos o supermercado. Ela, com certeza, era descendente de chineses ou daquele povo ali perto, acho que Mongólia, seus traços pareciam muito com eles e o tamanho também, mas era de uma perspicácia e dinamismo que por causa disso, chamou-me tanta atenção. Diligente, enfiava as coisas rapidamente no carrinho e depois na chegada ao Caixa com o netinho ao lado dela, ajudando-a a retirar as coisas do carrinho, que não era do supermercado e sim daqueles que algumas donas de casa ainda levam para a rua. Os dois estavam intimamente ligados no trabalho que executavam e nem olhavam pros lados.
Eles eram estrangeiros, seus traços eram bem mongóis e a sua capacidade de trabalho era impressionante, não parecia ser de uma mulher octogenária, facilmente denunciada pelos cabelos brancos e corpo já curvado da idade, mas a atitude dela, sim, era de chamar a atenção realmente. E o mais incrível que o menininho, também com traços mongóis, tão pequeno e tão absolutamente participativo naquele afazer. Até lembrei-me que não era um programa que eu fazia com meu filho. Sempre o poupei de coisas que ele não gostava de fazer, como compras comigo na rua ou ajudar-me em casa nos afazeres domésticos. Nunca forcei-o a carregar coisas para mim, colocar lixo na rua, mesmo maiorzinho, nunca chamei-o para amassar biscoitos por exemplo ou fazer a sua própria cama. Nunca fui pra cozinha amassar um bolo e chamei-o para ver como fazia ou pedi que me ajudasse a amassar a massa ou colocar farinha, sempre priorizei sua diversão, então ele ficava no video game ou com seus brinquedos ou amiguinhos. Quase tudo eu mesma fazia ou era minha ajudante, mas ele nunca foi chamado a essas coisas, assim como nunca o levei a um cemitério para sepultamento de alguém ou à uma igreja forçosamente, sempre deixei que ele escolhesse sua manifestação espiritual, talvez por eu ter sido forçada quando criança a essas e outras coisas, então achava que seria melhor que ele escolhesse sobre este assunto. Mas, sempre lhe falei de Deus e dos mandamentos, isso era condição imposta desde cedo em nossa casa, ele tinha que entender que embora os pais não frequentassem igreja nenhuma, eram obedientes às leis de Deus e ele cresceu dentro desses preceitos e nunca nos deu tristeza neste sentido.
Vi ali naquele menininho com sua avó chinesa, uma bonita ligação e ao mesmo tempo uma forte influência de comportamento e aprendizado, provavelmente passado de pai para filho e assim por diante. Sabemos que certos povos têm em seus genes e em suas ligações familiares muita força, muita influência do que o mais velho fala e determina, assim como vejo que os brasileiros não costumam ter com seus filhos comportamentos que os contrariem ou que os façam trabalhar desde cedo em casa, ajudando, participando, ouvindo e seguindo histórias familiares, pelo contrário, muitos não querem seguir a mesma carreira do pai ou da mãe e seguem modos totalmente diferentes daquilo que os pais orientam e é muito bom quando tudo dá certo e todos ficam felizes no final das contas.
Também vejo crianças que não acompanham pais em nada, a não ser para seus próprios interesses, festinhas de aniversários, brincadeiras com os coleguinhas nos clubes ou escola, fora isso não estão nem aí para o que o pai ou a mãe sentem, se estão tristes, cansados, estressados, se tiveram um dia de muito trabalho e muitos até fazem cobranças ou não ajudam em afazeres domésticos, mesmo que fáceis.
Raramente ouço alguém dizer que os filhos são participativos em casa, a maioria das pessoas que conheço e conheci com filhos que foram pequenos no mesmo tempo que o meu, todas tiveram a mesma convivência familiar e até mesmo agora, quando jovens, vão e voltam de suas escolas ou universidades, mas não se envolvem nas tarefas domésticas. O daqui de casa ajuda pouco, esporadicamente lava uma louça, faz a cama pela manhã, bota as roupas sujas no lugar adequado, mas pelo menos não faz bagunça na casa, a não ser em seu quarto que, como de todo jovem, tem que ter aquela 'arrumação bagunçada', mas de vez em quanto eu rodo a baiana e ele arruma tudo em seus devidos lugares, como fazia quando pequeno no final da noite, arrumando comigo seus carrinhos e bonecos na estante ou no baú do seu quarto.
Nas sociedades americana e canadense é facilmente percebida a inclusão das crianças e jovens em diversas atividades familiares ou mesmo no incentivo que dão aos trabalhos voluntários desde a tenra idade, notadamente nas pequenas cidades de interior, quando frequentam a High School, não importando a condição sócio-econômica da família, fazendo com que os filhos entendam o quanto é importante esta inserção na sociedade.
Claro que a culpa é nossa, dos pais, que não souberam ou não quiseram administrar desta forma, delegando uma ou outra pequena tarefa dentro de casa. Por isso lhes pergunto; como tem sido esta relação com seus filhotes, quer sejam pequeninos ou jovens hoje em dia? Eles ajudam, fazem pequenas coisas como varrer, arrumam seus quartos, participam na cozinha, jogam lixo fora, organizam suas roupas quando chegam da rua, guardam seus brinquedos, como é isto em sua casa?
* Post escrito em 29/11/2009 - se quiser ver os comentários daquela época é só clicar aqui.
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