Usos e costumes - recordação
Natureza

Usos e costumes - recordação


Ser mocinha nos anos 60 era complicado,  devido aos preconceitos em torno da figura feminina e quase nada era exposto ou fácil de lidar para uma adolescente que sonhava com os Beatles e queria usar as saias curtíssimas da moda, as mini saias com botinhas inspiradas no filme Barbarella com Jane Fonda e incentivada no Brasil pela turma da Jovem Guarda com Wanderléa e outras meninas.

E aí, estava eu na sala de aula do colégio público do meu bairro, maravilhoso por sinal, com grande área construída e pátio arborizado para brincadeiras diversas na hora do recreio, assim como um enorme auditório  com cortina de veludo vermelho e poltronas verdes confortáveis, mas voltando à sala de aula, vemos a inspetora de nossa turma chegar à porta e anunciar que teria uma palestra no auditório às 15 horas somente para as meninas da turma.  Meninos não eram convidados nem bem vindos porque o assunto era somente voltado para as meninas moças e fazia parte de algum convênio do Ministério da Saúde para, em conjunto com a aula de Ciências, explicar e, principalmente, apresentar às jovens o sucesso do momento - o Absorvente Higiênico - uma novidade incrível e revolucionária para auxiliar e trazer conforto e liberdade de movimentos para as mulheres.  A professora de Ciências mostrava,  em slides, imagens do aparelho reprodutor feminino e o processo que ocorria nele todos os meses, consequentemente o que se chama menstruação. 

Recordo-me das nossas caras, meio envergonhadas, risinho contido, olhando umas para as outras e cheias de curiosidade ao mesmo tempo, pois tudo aquilo era maravilhoso, um mundo sendo aberto, rompendo silêncios de séculos e uma consciência de que o mundo estava avançando para todos nós.

Este dia tornou-se inesquecível para mim e imagino que tenha sido para muitas de minhas companheiras daquela época, pois além de conhecermos melhor sobre nós mesmas, fazer perguntas a respeito do assunto e que tirou algumas dúvidas, afinal nem todas as meninas tinham mães que conversavam abertamente sobre este assunto, talvez pelo ranço do machismo que ainda existia, vergonha ou das poucas informações que muitas mães tinham sobre este ou outros assuntos referentes a sexo e sexualidade.

Cada uma das meninas recebeu ao final da apresentação um pacote de Modess, o absorvente mais badalado e usado por muito tempo pelas mulheres nas décadas seguintes, tanto que ficou conhecido aqui no país,  como referência ao se referir a absorvente, ou seja, a difusão da marca foi tão forte que o nome viraria sinônimo do objeto como Coca é de refrigerante.  Mas os anúncios eram muito discretos, assim como não se usava falar a palavra 'menstruação' e sim 'aqueles dias'.  E algumas mulheres tinham vergonha de pedir o tal produto na farmácia, então passavam escrito discretamente num papelzinho para o balconista.  Coisa tosca, né!
Isso deve soar estranhamente para os dias atuais em que vemos mulheres conhecidas fazendo anúncio de absorventes higiênicos com a maior naturalidade como vi hoje,  em um stande luminoso de rua,  com a cantora Cláudia Leite.

Retornando à sala de aula, não sabíamos como esconder o tal pacotinho, sentíamos vergonha da chacota dos meninos que, espertamente,  já conheciam ou ouviram falar do tal produto e nos receberam com risadinhas e  piadinhas.  Meninos, blergh!!!!!

Lembrei-me de contar sobre esta minha estória e deste produto que revolucionou em muito a vida feminina, afinal poderíamos usar nossas mini saias da época sem medo de passar vexame, ter uma vida mais ativa e confortável.   E uma outra coisa também me fez recordar tudo isso,  foi quando vi este vídeo no you tube com a atriz Marília Pera, ainda bem jovem e em plena ditadura militar no Brasil, onde qualquer vocábulo ou frase que representasse sinônimo de liberdade, eram imediatamente censurados e o tal anúncio era do absorvente Sempre Livre, claro, censurado na época!  Absurdo!














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