Natureza
Ouvindo a vida
Certa vez, numa das inúmeras viagens de ônibus que já fiz à Maringá onde mora meu filho - Sim, porque mesmo tendo direito a usufruir milhas que meu marido tem acumuladas, minha neura em pegar dois aviões para chegar ao norte do Paraná me impedia de ir sozinha e devo confessar que ainda não estou totalmente curada - mas, voltando ao que contava, estava eu na minha poltrona junto à janelinha, quando um rapaz grandão, meio forte e espaçoso sentou-se ao meu lado.
Me ajeitei o quanto pude para garantir meu lugar sem ser incomodada pelo braço do rapaz e para que ele notasse a minha presença ali do seu lado. Parece que surtiu efeito, porque ele respeitou direitinho meu espaço, deu-me um sorrisinho, ajeitou-se o melhor que pode com seu corpanzil e pés grandes, esticou-se todo na poltrona e imediatamente pôs-se a ajeitar uns fiozinhos nos ouvidos.
Era o indefectível aparelhinho MP3 que grande parte dos jovens curte demais e que nunca me seduziu, pois odeio enfiar qualquer coisa nas minhas orelhas. Tenho-as pequenas e fico muitíssimo incomodada com aquilo no ouvido, embora já tenha tentado algumas vezes a fim de superar este preconceito, mas não adianta, realmente não curto o aparelhinho, se bem que adoro músicas e gosto que elas façam parte de minha vida.
Enfim, o rapaz em poucos minutos estava na dele, de olhos fechados e a musiquinha tocando na sua orelha, bem feliz da vida, ouvindo um techno, pois conheço bem a batida porque meu filho também adorava este estilo e passei muitos anos ouvindo sem querer ouvir esta nova vertente musical, a qual simplesmente abomino, tanto quanto o funk. Considero o techno uma batida repetitiva que mais parece um martelo nos miolos e o funk, apesar de ter uma levada que não é das piores, tem suas letras e rimas absurdamente pobres.
Então, realizem a cena; estava eu ao lado de alguém que iria ficar até o fim da jornada, e bota jornada nisso, pois de Niterói à Maringá são quase 14 horas de viagem, ouvindo techno por tabelinha. É dose, não! Aliás, foi dose, pois o cara simplesmente apagou minutos depois e aquele MP3 continuou ligado em sua orelha, numa batida rouca que eu ouvia o tempo todo, parecia que tinha um rádio ligado numa frequência muito ruim e que ao longe lembrava alguém roncando com o nariz entupido. E foi assim a viagem toda. Ele não tirou o aparelhinho nem quando acordou para ir ao banheiro numa das várias paradas, ia e voltava com aquilo ligado, parecia fazer parte do seu corpo. Tais aparelhinhos parecem não ter uma boa vedação e quem está ao lado acaba ouvindo sem querer ouvir ou participar.
Bem, para que eu ouvisse o ruído era porque estava bem alto o volume, coisa que não parecia perturbá-lo nem um pouco, mas que me deixou impressionada como alguém conseguia conviver, ou melhor, até dormir com um som entrando pelos ouvidos e relaxar. Eu só consigo dormir com silêncio, nem mesmo tv no quarto eu e meu marido gostamos, pois consideramos que quarto é para dormir, ter um relaxamento completo e um ou outro vendo tv com som ligado, mesmo baixinho e a claridade que o aparelho emite, não deixa o sono ser totalmente tranquilo, pelo menos para nós, claro que já ouvi gente dizer que tem que dormir ouvindo o som do ventilador, pois já se acostumou de tal forma com ele que fica parecendo que falta algo para se desligar completamente. Enfim, cada um com sua doideira! A nossa é quarto bem escurinho e silêncio total, por isso subimos para a serra quase todo o final de semana.
Lembrei-me desse fato que presenciei, pois pode parecer corriqueiro para muitas pessoas, mas ouvi pela CBN esta semana que a CE (Comissão Européia) vai determinar, no sentido de proteger a juventude atual e ouvintes de música MP3, que tais aparelhinhos tragam um dispositivo de nível sonoro "seguro", e que alertem os usuários se o volume estiver muito alto. Para completar, uma nova pesquisa publicada nos Estados Unidos confirma que o perigo é real.
Num grupo de 31 estudantes universitários, inseriram microfones em miniatura dentro dos fones de ouvidos. Eles gravaram o nível e o nível máximo sonoro ao qual cada estudante se expôs.
Os pesquisadores descobriram que 55% dos estudantes usaram seus reprodutores de música em volume "muito alto" --por volta de 85 decibéis--, enquanto 26% ouviu em volume "alto" (entre 70 e 85 decibéis), e 19% registraram som abaixo dos 70 decibéis. Mas os níveis máximos eram muito acima desses números, frequentemente excedendo os 100 decibéis.
Isso representa sérios riscos à saúde, melhor dizendo, surdez voluntária, pois a maioria usa seus aparelhos em níveis de volume suficientes para, eventualmente, causar perda permanente da audição. Geralmente usam em mais de 100 decibéis, quando o tolerável é de até 80 decibéis.
Um dos primeiros sinais de problemas de audição é o aparecimento do "zumbido", um ruído contínuo que parece um chiado.
Quantas e quantas vezes já falei isso a meu filho, alertei, chamei sua atenção para este detalhe.
Imagino que a mãe de alguns de vocês, mais jovens e que me leem, também já tenha feito o mesmo. Afinal quem ama, protege! E, já que aqui no nosso país ainda não temos uma Comissão desse porte, responsável e que proteja seus cidadãos, temos que dar ouvidos aos pedidos dos pais ou amigos para este importante detalhe.
Os fabricantes podem não estar tão interessados. A Apple, fabricante do iPod e do iPhone, não respondeu às questões sobre a regulamentação proposta quando a história veio à tona, mas se a proposta desta comissão for aprovada e regulamentada, terão que se adaptarem a essas novas regras e isso será bom para todos e quem sabe, rapidamente chegue até nosso continente.
"A perda auditiva pode ter consequências profundas, causando isolação social e levando as pessoas a deixar de lado a família, o trabalho e os amigos."
Então, galerinha amiga e querida, se liga aí e tenha cuidado com a saúde!
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