Natureza
Nos olhos do jovem arde a chama. Nos do velho brilha a luz. (Victor Hugo)
(imagem-© Michael Bishop/Illustration Works/Corbis)
Cena comum de se ver por aqui é gente idosa. Geralmente velhinhas, sendo acompanhadas por uma cuidadora a passear vendo vitrines ou sentadas batendo papo com outras da mesma idade nos diversos bancos que têm espalhados por uma badalada rua aqui do bairro. Muitas ainda carregam seu cãozinho de estimação para estes passeios diurnos e como adoram uma conversa!
E eu, como sempre, sou a vítima da vez, mas deve ser porque também já estou ficando uma delas, só que ainda sem cuidadora no meu pé, assim passo mais disfarçada. Abafa!
Well, mas estou lá no meu hortifruti predileto, agora todo renovado, com apetitosas frutas suculentas que este nosso país tropical nos dá, entre um melão amarelo e outro verde, provando de um e do outro para ver qual deles é mais docinho. Sim, provando! É que neste maravilhoso hortifruti tem recipientes fechados em acrílico com palitinhos descartáveis também em acrílico, para a gente provar e ficar tentado a levar a fruta até sem ver o preço.
Era um sábado pela manhã e um cara bem apessoado tocava um saxofone reluzente e dourado sendo acompanhado pelo seu teclado eletrônico em sintonia completa com a música. E ele soprava Tons Jobins, Vinícius, Djavans, Chicos e eu só enchendo o carrinho e cantando junto, nem via preço nenhum mais, completamente enlevada com a música e a beleza das frutas, legumes e verduras. Um truque de marketing muito bem bolado para a gente se perder completamente e não perceber os elevados preços que estão as verduras depois das enchentes de janeiro.
Mas, tá bom! Com uma boa música e um ambiente climatizado recheado de delícias eu fingi que não vi.
Quando noto ao meu lado uma velhinha, simpática, bem arrumada, de chapéu com aba branca e furado na cabeça, de bermuda clara e blusinha cor de rosa, uma fofa! Disputava comigo os quadradinhos de melão amarelos e verdes.
Olhamos uma pra outra e começamos a rir da cena. Pronto, já começou o papo!
- Ah, eu adoro vir aqui! Tanta coisa gostosa e fresquinha não é?
- Hummmmm, eu também!
- Sabe quantas vezes eu venho por dia?
- Não!
- Duas vezes.
- !!!
E aí começou a me contar sua rotina diária com a maior naturalidade. Disse-me que tomava seu café, geralmente pelas 8 da manhã, depois assistia a Ana Maria Braga, pegava seu chapeuzinho e descia um quarteirão em direção à praia e ao hortifruti. Só levava a quantidade para o dia e, geralmente pouco por causa do peso. Então, era 1 mamão papaya porque é pequeno, meia dúzia de bananas e algum legume ou verdura.
Ia de volta à casa, tomava seu banho, almoçava e dormia um pouco, depois via a novela da tarde e quando o sol dava uma trégua neste horário de verão brilhante, descia novamente à rua e lá ia em direção ao hortifruti de novo.
Talvez para comprar algo para o lanche ou a janta, mas nunca comprava muito por causa do peso e, principalmente, porque no outro dia queria voltar ao local que tanto gostava.
Dos melões partimos para a seção de pães, conversamos mais um pouco e nos despedimos.
Idade: 82 anos - o nome não perguntei, só me lembrei desse detalhe depois que ela se foi, mas o importante foi o embalo da conversa e a impressão tão viva que ela me passou e me inspirou, para que num futuro eu faça igual, caminhe com as minhas pernas e possa ter o prazer de escolher meu próprio alimento, converse com as pessoas com o coração pleno, sem medos ou vergonha de expor minha velhice no contato com outros seres humanos e que nunca me deixe levar pela melancolia que nos arrebata para a desesperança.
Para entendermos, valorizarmos e ajudarmos nossos idosos, uma excelente dica é acompanhar o Blog Longevidade da amiga Silvia Masc. O link é este aqui.
"Para o ignorante, a velhice é o inverno da vida; para o sábio, é a época da colheita."
(Talmude)
"A idade não depende dos anos, mas sim do temperamento e da saúde; umas pessoas já nascem velhas, outras jamais envelhecem."
(Tyron Edwards)
"Os anos enrugam a pele, mas renunciar ao entusiasmo faz enrugar a alma."
(Albert Schweitzer)
loading...
-
Vou De Táxi Iii - O Homenzinho E Seu ídolo
E numa tarde dessas lá volto eu, desta vez com mamãe à tiracolo, em mais uma visita ao dentista. Entramos num táxi que estava parado à espera de passageiros no ponto mais próximo, para não cansar minha mãe que não aguenta andar...
-
... Pois Bondade Também Se Aprende.
Hoje eu conversava com duas amigas do curso de francês e uma delas, octogenária, disse-me que tinha receio em entrar para a classe e ser rejeitada ou esquecida por causa de sua idade. Claro que eu disse-lhe que isto seria impossível, principalmente...
-
De Bateria Renovada Lá Vou Eu
(Imagem) Pronto, gente! Já estou em total sintonia com o silêncio e a paz. Assim que espero, amanhã minha bateria estará toda carregadinha como a do bonequinho do vídeo abaixo, simplesmente porque estou na minha BatCaverna querida e sossegada...
-
Meio Zen, Meio Hippie.
Todos temos nossas manias e uma das minhas é chegar em casa e ir tirando tudo de cima de mim. Explicando melhor: não consigo chegar da rua e ficar nem mesmo de brinco, tenho que me libertar de tudo que uso e gosto para enfeitar minha casca....
-
Os Dois Extremos De Nossos Mundos
(Pôr do sol visto na Linha Vermelha do Rio-foto minha) Enquanto o sol brilha de rachar a cuca lá fora, leio as meninas do outro hemisfério que congela e vejo pelos telejornais o que a Europa, América e Ásia estão sofrendo com este inverno que...
Natureza