Natureza
In Memorian de Carlinhos e Emídio
Barquinho do Poeta Fernando Pessoa. Este trabalho é parte da galeria de:Emidio J.C.Montenegro
A morte
A morte não tem avenidas iluminadas
não tem caixas de som atordoantes
tráfego engarrafado
não tem praias
não tem bundas
não tem telefonemas que não vêm nunca
a morte
não tem culpas
nem remorsos
nem perdas
não tem
lembranças doídas de mortos
nem festas de aniversário
a morte
não tem falta de sentido
não tem vontade de morrer
não tem desejos
aflições
o vazio louco da vida
a morte não tem falta de nada
não tem nada
é nada
a paz do nada
Ferreira Gullar
(1930)
Neste domingo despedimo-nos de dois amigos. Foi triste. Ainda estou triste. Guardo na lembrança suas fisionomias vivas, alegres e amigas, eram pessoas que exerciam coisas diferentes em vida - um era Maitre antigo do restaurante que vamos há muitos anos em Petrópolis e o outro um Pintor, Artista, Arquiteto e pai de um dos melhores amigos de meu filho. O choro dos que ficaram, o cheiro das flores no cemitério, o abraço aos parentes, todo o ritual de despedida e luto que nós, seres humanos, teremos que enfrentar um dia em nossas vidas, não há escapatória para nenhum de nós, lembremo-nos disso, pois na morte todos somos iguais e como diz o poema de Gullar "a morte ... é nada, a paz do nada".
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Natureza