Você se lembra?
Natureza

Você se lembra?


(Imagem GuaRantiga-Facebook)

A noite está tranquila, talvez pelo inverno que 'tenta' chegar numa cidade que não tem nenhuma vocação para o frio, mas que segue, embora indolentemente, o ritmo das estações que se repetem a cada ano em todos os lugares.  Eu disse tranquila, mas ainda ouço ao longe, vozes em algum bar ou restaurante e uma ou outra buzina de alguém sem noção que pensa que o ponteiro do relógio está marcando meio dia, mas na verdade já passa de meia noite, porém não há mais silêncio absoluto ou, pelo menos, a ilusão de ouvir apenas o murmúrio de um rio passando ao longe. Não, não há silêncio mais nas nossas cidades com populações superiores a 400.000 habitantes, ainda mais num Rio ou Niterói, cidades inchadas de gente, prédios e carros.

Na coluna de Arnaldo Bloch deste domingo em O Globo, ele fala justamente do peso que os ruídos fora de controle têm na trilha de angústias sobre as pessoas. No Rio, que antes era possível a um morador bem recuado da rua Santa Clara ouvir o som do mar de Copacabana, pois o mesmo alcançava, forte, os sentidos, o som e o ar chegavam aos fundos do bairro e a maresia misturava-se ao aroma herbário da aragem dos morros. Era um tempo em que a cidade, mesmo já crescendo no quesito imobiliário e populacional, era ainda uma cidade silenciosa.
Ele cita os muitos ruídos nocivos e que estão por todas as grandes cidades brasileiras, mas por aqui está num ranking bem mais à frente:  ". . .os motoboys, involuntariamente, maltratam, com um buzinaço incessante, transeuntes, passageiros de coletivos e motoristas com seu medo de morrer, imposto pela pressa gananciosa de seus empregadores.
A polícia soa suas sirenes mesmo sem necessidade e carros de passeio e motos munidos de sirenes aterrorizam a população a seu bel-prazer sem serem incomodados.
O horror começa pela manhã, quando todos os tipos de caminhões de entulho de mudança, de entregas, de lixo, começam a soar os seus detectores traseiros.  A infernal invenção que facilita as manobras de uma minoria de caminhoneiros inflige a milhares de moradores e transeuntes danos irreparáveis ao bem-estar, com consequências imprevisíveis para os nervos."

Eu ouço muito estes ruídos por aqui, mesmo estando no 13o.andar, mas eles sobem invariavelmente e é difícil se acostumar, principalmente quando me lembro dos sons agradáveis que me chegavam na infância, aqueles que entravam pela janela de casa, sempre bem vindos, deixavam um sorriso luminoso na nossa cara e não faziam mal nenhum a mente ou ao espírito.

Um desses sons maravilhosos era o grito do padeiro às três da tarde; Olha o pão! carregando nas costas um imenso cesto cheio de pães fresquinhos e um pão doce inesquecível.  Havia também o amolador de facas que operava uma máquina de barulho estridente sobre uma bicicleta e que logo em seguida, como num passe de mágica, algumas senhoras saiam de casa com  objetos nas mãos para ele afiar. Outro barulhinho simpático para a garotada era o chocalho de um vendedor de pirulitos, não lembro o nome daquilo, mas a criançada toda sabia quem vinha lá na esquina.
E havia o som da máquina de costura Singer de minha mãe que, primeiramente no pedal, depois no motor, fez para mim e meus irmãos roupinhas singelas e muito amorosas.

Um som que ouvi em muitas tardes de verão juvenil foi o da vitrola de uma vizinha em Copacabana que adorava Ângela Maria e todo dia tinha o tal "Babaluuuuuuuu êeeeeeê Babalu!" e eu vivia cantando este refrão debaixo do chuveiro.

E num belo dia meu pai chegou com uma máquina de escrever daquelas antigas, Remington, deu-me de presente, e eu treinava nela depois das aulinhas de datilografia no Senac, então este som também é muito simbólico na minha vida, tanto que o meu teclado no computador é com barulhinho de máquina de escrever, eu gosto, nem quero saber se encho o saco de alguém me ouvindo teclar, mas isso me traz uma recordação maravilhosa.

Os sons de hoje não se assemelham com os de outrora, os personagens são outros, menos românticos digamos assim, muito mudou, mas nossa memória sobrepõe-se em meio a todo este barulho e guardou lá no fundo, para nossa alegria e um pouquinho de nostalgia, os sons que marcaram nossas vidas.

E então eu pergunto a vocês, caros amigos, que sons agradáveis guardam na memória afetiva?

Como assim, não conhece Babalu, clica aí embaixo e, garanto que nunca mais vai esquecer!










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