Menina de trança
Natureza

Menina de trança




"Dois horizontes fecham nossa vida: 

Um horizonte, — a saudade ... 

Do que não há de voltar; 

Outro horizonte, — a esperança 

Dos tempos que hão de chegar;" 

Machado de Assis. 

E para inaugurar o ano, deixo uma de minhas crônicas, lembranças de um passado feliz e dourado.

Menina de trança


Aos 15 anos a garota 'não queria saber de nada com a hora do Brasil".
Este era o jargão empregado por alguns pais ou pessoas mais velhas daquela década dos 60 para reclamar dos filhos alienados, ligados nas novas descobertas e vertentes musicais. E era assim a maioria dos jovens, que viam o mundo por uma janela mais ampla que a de seus pais, mundo este que se preparava para eles, para abraçá-los, com uma revolução musical e de costumes.

A menina estudava, voltava do ginásio, almoçava e já colocava o vinil de um dos ídolos que mexiam os corações das mais românticas, e um deles chamava-se Antonio Marcos. Um bonito rapaz nos seus 24 anos, cabelos longos, barbinha rala, um pãozinho e com um repertório que até mesmo as mães cantarolavam uma ou outra música quando ele aparecia nos programas das tardes de domingo do Chacrinha.
O pai vivia reparando na menina e rosnando baixinho, só pra infernizar, no ouvido da mãe: -Se esta menina se perder, se acontecer alguma coisa, você será responsável!
Coitada da mãe e coitada da filha! A menina nem pensava em namorar a sério, mas sonhava com príncipes cabeludos e de guitarra nos ombros.

A garota era tão pura que dormia às vezes ouvindo seus vinis, nas tardes mornas do verão carioca, e quem a olhasse em seu sono tranquilo,não dizia que já tinha 15 anos e sequer merecia ser chamada de senhorita, tal era seu semblante infantil. Dormia impune, podia o mundo desabar e ninguém a despertaria dos sonhos dos seus 15 anos.

O bairro em que moravam, longe do centro da cidade, não tinha muitos recursos, apenas cinemas e praças com coreto onde, geralmente, tinha um ou outro show de cantores desconhecidos.

A mãe ouviu falar que num dia daqueles, haveria show com o cantor Antonio Marcos e tentou se informar direitinho, para levar a filha à praça na tarde marcada. 
Quando a menina soube que um de seus cantores prediletos iria se apresentar logo ali, pertinho de casa, teve até o sono interrompido por alguns dias e agitada pela expectativa do dia.

Enfim chegou a tarde tão esperada, nem era só a menina que estava ansiosa, a mãe também, porque lá no fundo, era fã do rapaz bonitão e também queria vê-lo de perto.

Partiram rumo à praça, um pouco depois do almoço, para poderem achar um lugar bem pertinho do centro do coreto para ver melhor o ídolo. Sentaram-se no gramado, a mãe comprou dois guaranás e pipocas, e lá ficaram, um tempão esperando. Lá pelas 16:30hs, a praça já tinha um número considerável de pessoas, na grande maioria, mulheres e meninas e às 17 horas anunciaram a chegada do cantor Antonio Marcos.

Chega ao centro do coreto, um cara baixinho, cabeça chata, usando um chapéu de couro esquisito e segurando uma enorme sanfona. Junto com ele, dois outros, igualmente parecidos, com instrumentos de acompanhamento. O apresentador diz: -Pessoal, temos a honra de receber aqui hoje, Antonio Marcos, o novo rei do baião!

A garota se levantou empertigada, bem típica de sua idade, e abriu um bocão em direção à mãe, já perturbada:
- Mãe, este não é o Antonio Marcos!
Uma dona sentada ao lado, rapidamente corrige: -É sim, este é Antonio Marcos de Jesus e canta muito bem as músicas do Gonzagão!
A garota sai correndo, desembalada, decepcionada e chorosa. A mãe desce a praça atrás dela, preocupada com a desilusão da filha e com o jantar do marido e dos outros dois filhos que a esperavam fazia tempo.

Que rei do baião nada! A menina nos seus quinze anos queria rock, queria baladas românticas, um pouco do soul de Hendrix ... e nada com a hora do Brasil.



E quem quiser conhecer ou relembrar o bonito, clica no vídeo abaixo:











loading...

- A Menina Que Odiava Boleros
Ícones inesquecíveis dos anos 60via Os aniversários da priminha eram sempre um suplício para a jovem de 15 anos, afinal boleros e outros ritmos daquela época, tocados em profusão e repetidos por várias vezes na vitrola da tia, doiam seus ouvidos...

- A Volta Da Que Não Foi
via Ah como é bom pedalar uma bicicleta, o vento no rosto, nos cabelos, uma sensação de liberdade e de tudo posso sobre duas rodas!  Eu tinha uma dessas, rosa assim, com uma cestinha branca na frente, uma Caloi Ceci, zero marchas.  Eu morava...

- Vou De Táxi Iii - O Homenzinho E Seu ídolo
E numa tarde dessas lá volto eu, desta vez com mamãe à tiracolo, em mais uma visita ao dentista. Entramos num táxi que estava parado à espera de passageiros no ponto mais próximo, para não cansar minha mãe que não aguenta andar...

- Já Estou Pensando Alternativamente
                         (A Estação do Catamarã (no centro) em Charitas-Niterói e Baía de Guanabara com a vista do Rio de Janeiro)...

- Luisa In The Sky With Diamonds
Ela é Luisa, nossa sobrinha de apenas 11 anos e que desde a tenra idade gosta de escrever e criar personagens. No início eram folhas e mais folhas com estorinhas e desenhos de personagens, como quadrinhos, geralmente captados pelo seu olhar sobre...



Natureza








.