Natureza
Da Indignação às Minhas Trapalhadas
- Da Indignação
Nestes tristes dias em que estamos presenciando tantas mortes e desgraças ocorridas nesta cidade, não tenho tido vontade de escrever ou navegar pela internet para alimentar meu blog. A tragédia que o fenômeno da natureza trouxe, principalmente, às pessoas pobres e que moram em áreas de risco desse Estado é uma tragédia anunciada há tempos e pura omissão de uma administração que vira as costas para os miseráveis que foram empurrados para o morro, o lixo e a terra fofa.
Quero ressaltar que O IPTU pago é o mais caro do Estado do Rio de Janeiro e segundo mais caro do país (só perde para Santos) e não se converte em melhorias para os cidadãos.
Portanto, nem vou me alongar mais sobre o assunto aqui, já falei demais por estes dias através do Jornal O Globo, através de comunidades no Orkut e estou esperando o tempo amainar um pouco para poder fazer minha entrega de doações no Clube aqui próximo de casa.
- Minhas trapalhadasMas, vou contar-lhes minhas peripécias e verdadeiro festival de confusões ocorridos na segunda-feira, no dia fatídico da primeira chuva torrencial sobre a cidade do Rio de Janeiro e Niterói.Eu e marido acordamos às 4:30hs da matina, lá em Petrópolis, pois resolvemos aproveitar ao máximo o feriado da páscoa e, por acharmos que seria melhor descer a serra sem complicações, optamos por vir bem cedo na manhã daquela segunda-feira. Saímos então de Petrópolis às 5 horas em ponto e em pouco menos de 30 minutos já estávamos na baixada, pegando a Rodovia Washington Luís, passando o pedágio que une o município de Caxias à Petrópolis. Ali começou o problema, pois o rapaz que recebia o dinheiro do pedágio ao invés de nos dar o troco de 0,50centavos que seria o certo e honesto, passou ao meu marido, juntamente com o ticket apenas 0,10 centavos. Meu marido achou a moeda muito leve e mandou que eu conferisse o troco. Disse-lhe que estava errado e ele, com sua costumeira posição de politicamente correto e honesto, deu uma pequena ré e pediu ao vigilante ao lado para que fosse falar com o rapaz da cabine, pedindo o troco devido. O rapaz entregou ao vigilante e ainda ficou olhando para nós, como achando que éramos mão de vaca por estar cobrando o troco certo, mas não era justo ser ludibriado logo nas primeiras horas da manhã e o que é nosso direito, não abrimos mão.
Seguimos em frente e o que nos esperava foram quilômetros de engarrafamento e espera no trânsito. E assim, uma viagem que poderia ter sido feita em 1:30hs ficou em 3:00hs até a porta de meu apartamento em Niterói. Um desgaste cansativo logo no início do dia, mas o marido ficou na Estação das Barcas e foi pro seu trabalho no centro do Rio para mais um dia na vida de um trabalhador brasileiro.
No final da tarde, ligou-me apreensivo com o que via pela janela. Nuvens pesadas, ventania e começara a chuva no centro do Rio, mas ele tinha que voltar para casa e resolveu pegar o catamarã na Praça XV, dizendo-me que não precisava pegá-lo porque viria de táxi até em casa.
Acontece que passados mais de 40 minutos e ele não tendo me ligado, eu mesma liguei para ele para saber onde estava, ao que o próprio me respondeu: Cheguei! Tô aqui na esquina. Mas, não posso ir para casa, porquê tem uma lagoa para atravessar e não quero sujar meus sapatos, portanto vou esperar as águas escoarem-se e irei em seguida.
Passaram mais alguns minutos e liguei novamente para ele, perguntei-lhe se queria que eu fosse lá pegá-lo e ele me disse que não, que eu esperasse mais 10 minutos e que depois disso, caso não baixasse a água, me ligaria para que eu fosse ali, pouco menos de 100 metros para pegá-lo de carro.
Ele estava num prédio novo, recém-construído e fica na esquina da minha própria rua.
Acontece que eu não sou muito, digamos, obediente, não tenho muita paciência para esperar em casos assim e a chuva parecia nunca ter fim, além do mais eu estava preocupada com ele, já que levantamos neste dia muito cedo e podia imaginar seu cansaço e o quanto deveria estar louco para chegar em casa e relaxar.
Peguei alguns sacos plásticos, a chave do carro e fui direto para a garagem, tirando o carro rapidamente e pegando minha rua na contra-mão. Nunca fiz isso na vida, mas meu marido estava ali, há pouco menos de 100 metros e era naquela direção, portanto não queria ir pro outro lado e dar uma volta grande, poderia ficar presa em algum alagamento e tenho maior medão dessas coisas.
Acontece que, enquanto eu ia, devagar e muito atenta ao caminho, já que estava cometendo uma infração caso fosse pega por um policial, e ainda por cima chovia demais da conta e meus olhos estavam fixos à frente, não olhei nenhum minuto para o lado ... e foi aí que começou o rolo.
Enquanto eu ia, meu marido vinha, justamente pelo cantinho da rua, esgueirando-se de poças e cuidando para chegar em casa sem sujar-se ou molhar-se por demais.
Resultado: Desencontro total. Quando eu cheguei na esquina, olhei para um lado e pro outro, para o tal prédio novo e não tinha ninguém, a tal lagoa já tinha baixado suas águas pelo bueiro, e eu, já meio atarantada, virei a esquina e quando dei por mim ... tchan, tchan, tchan, tchan ... entro numa avenida com um tremendo engarrafamento, água caindo à cântaros, buzinaço e ali estava eu sem lenço, nem documentos, nem celular, só sacos plásticos que levei na intenção de fazer o maridex enfiar o pé para não molhar ou sujar suas roupas, também pensei em oferecer os mesmos a outras pessoas que estavam com ele ali naquele tal ponto.
Que trapalhada! E agora, chamo o Chapolin Colorado, faço o quê, pensei eu? E o tempo passando e o marido lá no nosso prédio sem poder entrar, preocupado onde eu estava, o porteiro dizendo que eu tinha ido ali, logo ali para pegá-lo, mas mal sabiam eles que eu estava na rua ao lado metida numa fila interminável de carros à minha frente e pior, sem comunicação e a chuva aumentando, eu olhando pela janela e vendo a água subir e nada, nada andava, nem mexia-se.
Mulher é bicho esquisito, mas quando se trata de comunicação somos craques e eu, aproveitei uma brechinha no trânsito e emparelhei com um carrão bacana, dei uma leve buzinada e abaixei o vidro e com uma cara de cachorro pedinte expliquei ao rapaz que eu morava ali há poucos metros e que tinha ido pegar o marido na esquina, mas esqueci o celular na correria e blá, blá, blá ... será que poderia ligar pra ele e avisar que eu estava ali naquele ponto da avenida? Que esperta eu sou, pensei com meus botões! O rapaz legal, na mesma hora puxou seu lindo blackberry e fez a ligação para meu marido, mas não sei porque só caia na caixa postal, maior azar da parada. Tentou umas três vezes e eu agradeci muito e fechei o vidro, pois a água já estava entrando em excesso no meu pretinho básico.
Mais de 40 minutos se passaram e eu ali, parada no mesmo lugar e, por incrível que pareça, ninguém mais buzinava, só esperava e via a chuva cair, uma impotência generalizada. E eu pensava, que burrada, eu estava tão quentinha em casa e o que estou fazendo aqui agora?!!!
Até que de repente, o ônibus à minha frente rodou poucos metros e foi o suficiente para eu me espremer todinha e estacionar meu carro em frente a um prédio na calçada, enfiar um saco plástico em cada perna sobre meus lindos sapatinhos confortáveis e secos, puxar meu guarda-chuvas no banco traseiro e deixar o bendito carrinho pra lá, seguindo a pé para casa. Mas, antes, parei no primeiro orelhão e liguei a cobrar pro marido para dar a boa notícia de que estava viva e logo ali ao lado e que tinha sido uma 'pequena confusão' de minha parte. Mas ele quase entrou pelo fio à dentro e me deu uns petelecos na orelha, gritou, esperneou, disse que eu era completamente doida, pirada, porque não tinha esperado ele me ligar e aquelas coisas que um marido cansado, estressado depois de um dia de cão, doido para comer alguma coisa e tirar sua roupa de trabalho e tinha que esperar agora a 'dona encrenca' e aí foi que eu dei com o telefone em sua cara e fui andando debaixo daquele chuvaréu.
Realizem a cena; eu com dois plásticos brancos amarrados logo abaixo dos joelhos, pulando poças e louca pra chegar no meu prédio para explicar toda a confusão pro marido, massssssssssssssquando chego no prédio, cadê o marido? Perguntei pro porteiro e ele, coitado, já confuso com este casal de doidos, apontou para a esquerda, dizendo que o marido tinha saído à minha procura, só que pelo lado oposto.
Oh, noooooooo! E chovia, móoooooooooooito!
Já ia saindo para ir ao seu encontro quando dou de cara com ele vindo debaixo do aguaceiro, pau da vida e dizendo as mesmas coisas que já tinha me dito pelo telefone, que eu era muito afoita, apressada e blá, blá, blá!Tentei argumentar, explicar que tinha peninha dele e ele dizendo que não precisava de pena e que quem tem pena é galinha e aí já viu, kkkkk, só rindo das minhas trapalhadas, ficar calada era o melhor negócio naquele momento.
Bem, mas a história não acaba aqui, no nosso encontro finalmente no prédio, pois agora, depois de cansado com esta brincadeira de esconde-esconde e com seus lindos sapatos prá lá de encharcados e roupas também, ainda tinha que ir na tal Avenida pegar o meu carro que abandonei por lá no desespero em avisá-lo onde estava e louca para sair daquele engarrafamento. E assim fez, não aceitando os plásticos que eu queria que colocasse sobre os sapatos e nem a minha companhia, preferiu ir sozinho e foi, molhado e de mau humor.
Em menos de 15 minutos ele retornava ao nosso prédio e ia direto para o banho, comendo pouco e descansando em seguida, exausto, muito chateado comigo e ainda dizendo que eu era
precipitada e não ouvia quando ele me falava para esperar e não tomar decisões que poderiam trazer transtornos para o futuro.
É o tal negócio, pessoas como eu acham que estão ajudando e acabam arranjando uma complicação enorme quando tomam decisões levadas pelo coração e não pela razão. Prometi a mim mesma não mais me importar com estas coisas e quando estiver chovendo muito não tô nem aí, que espere, não saio mais do meu quentinho para me enfiar num engarrafamento e depois voltar pulando de poça em poça.
Besteira, quando a gente ama faz isso de novo, não tem jeito!
E, depois, algumas horas depois, ele me confessou que ficou nervoso sim, principalmente porque via a chuva aumentar, não sabia onde eu estava direito e temia por mim debaixo daquele temporal absurdo.
Nossa explosão de raiva um com o outro foi puramente por medo, medo que um ou outro estivesse sofrendo naquele momento difícil e então, bem, então que rolou beijinhos e beijinhos, rimos muito dessa confusão toda e fomos dormir, cansados e felizes, graças a Deus!
Moral da história:
"O amor, que não é mais do que um episódio na vida dos homens, é a história inteira da vida das mulheres."
Madame de Stael
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