Natureza
As pessoas são realmente educadas ou são as leis severas e bem aplicadas?
Numa ocasião, meu marido e um amigo estavam sentados em um saguão ferroviário, em Toronto, quando presenciaram a um fato constrangedor e inusitado.
Passava, lotado de malas, um homem corpulento que lembrava algum trabalhador do leste europeu ali na rica Bruxelas. De repente, o sujeito cuspiu, escarrou com toda força naquele piso brilhante, mas continuou caminhando. Ao chegar quase ao fim da extremidade do salão, meu marido percebeu que ele fora abordado por dois policiais que, com certeza, já o observavam de longe. E ali mesmo travou-se uma conversa em tom baixo, quase que íntima com o referido cidadão. Foram breves momentos e alguém trouxe aquela maquininha de limpeza, do tipo usada no McDonalds e um dos guardas tomou conta de suas malas. Tudo muito rápido, sem chances para argumentação.
O cidadão retornou e, vermelho, bufando de raiva encaminhou-se na direção de sua cuspida. Meu marido e o amigo nem ousaram levantar os olhos para ficar observando a cena, pois ele exalava ódio.
Enfim, limpou sua própria sujeira e retornou rapidamente para pegar suas malas e desaparecer envergonhado.
Este, provavelmente, nunca mais repetirá um ato semelhante na vida. Cuspir em um local público e fechado.
Outro fato estranhíssimo também, no Canadá, numa estação de Metrô, em que um homem, aparentemente indiano, passou por meu marido e jogou um resto de cigarro no chão. Como este não é um ato normal, nem mesmo aqui nos metrôs brasileiros (o do Rio é incrivelmente limpo e exemplar), meu marido olhou pro cara achando aquilo errado. Bastou somente este olhar crítico para que o sujeito saísse em debandada, pensando talvez que meu marido era um "tira", alguém da lei naquele país. Foi até engraçada a cena.
Aí eu volto lá em cima na minha pergunta.
Pois neste caso, num país onde as leis são bem aplicadas, indivíduos como este não se criam. Concordam? Ou, terão que a cada dia aprender a viver dentro dos contextos que regem a boa educação e o respeito à convivência mútua.
Daí, hoje após o almoço, fomos tomar um cafezinho naquelas cafeterias do tipo ilha que tem em um pequeno shopping de bairro aqui perto.
Quando meu marido aproximou-se da única mesinha disponível, percebeu que só tinha uma cadeira e uma mulher veio em sua direção tentando pegar esta cadeira também. Aí quando ela viu que eu vinha me juntar a ele, desistiu e disse que tudo bem, ela arranjaria outra. Só que o marido dela estava sentado numa e ela teve que se virar numa dessas cadeirinhas de pernas altas. Coitada!
Enquanto isto eu tentei achar uma outra e olhando pro lado vi que tinha um casal utilizando mais duas cadeirinhas inutilmente, pois numa tinha as bolsas deles e a outra seu garotinho de uns 3 aninhos empurrava-a prá lá e prá cá como se fosse um carrinho de brinquedo. Pedi a ela se poderia pegar uma delas e ela logo dispensou-a para mim, enquanto a outra continuava lá com suas coisas em cima, mesmo vendo que a tal mulher sentava-se mal numa de pernas altas que só servem para quem usa um balcão.
Aí, percebi que além do menininho ser um azougue, seu pai era um estrangeiro, com sotaque algo assim germânico ou holandês, casado com uma brasileira e que estavam extasiados olhando para as reinações do seu querido rebento.
Nem perceberam, ou se perceberam, não deram a mínima bola para o fato da mulher mal sentada ali perto, e quando se levantaram para ir embora, deixaram o local cheio de pipocas e papeizinhos no chão. A mesinha com café ou coca derramada por cima. Uma bagunça!
A moça do balcão vendo aquilo, impotente e resignada, pegou uma vassoura e começou a limpar.
Será então que algumas pessoas educadas e longe de seus países, os quais aplicam suas leis de forma implacável, sem desculpas, deixam de ser educados quando longe deles?
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