Natureza
Um lindo passeio para este domingo
Que tal uma visita a um antigo hotel que guarda a alma dos tempos hollyoodianos do Brasil em Petrópolis e que funciona agora como o condomínio do Palácio Quitandinha? Lindamente descrito pela minha amiga e escritora Leila Faour e que apresento através de minhas imagens.Bom passeio e um ótimo domingo a todos!
Hotel Quitandinha
A construção impressiona a quem sobe a serra e chega à Petrópolis pela sua beleza arquitetônica e suntuosidade - um Palácio em estilo normando-francês, típico de cidades de colonização alemã. Grandioso e simétrico, tendo à frente um lindo lago natural com pedalinhos e adornado por um jardim muito verde, com pinheiros e hortênsias.
É o Hotel Quitandinha, construído para ser o maior Hotel- Cassino da América Latina, mas que teve o seu destino modificado pouco tempo depois da sua inauguração quando, por um decreto-lei em 1946, foi proibido jogo no Brasil.
A roleta parou de girar. As apostas foram encerradas, definitivamente.
E o sonho dos Cassinos acabou no nosso país, levando consigo todo o glamour dos grandiosos shows musicais de uma época da nossa história.
Mas, como já diz o ditado: “quem foi rei, nunca perde a majestade” - o Hotel Quitandinha continua imponente, adaptando-se a novos destinos e, principalmente, apaixonando a todos que por ele passam.
E todos têm uma história para contar desse cartão postal da cidade.
Os mais antigos contam lembranças do tempo do Cassino e da coroação de Marta Rocha como Miss Brasil. Outros, dos bailes de Carnaval e de Aleluia e dos astros brasileiros e internacionais que nele se apresentaram, com grandes orquestras, no seu Teatro e na sua Boate. Além daqueles que não se esquecem dos banhos, de outrora, na famosa piscina térmica, inaugurada com o mergulho de Esther Williams.
Muitos guardam uma foto da excursão do colégio, sabe-se de um adolescente que queria afogar- se no lago por um desamor, uns se vangloriam das evoluções feitas na pista de patinação no gelo e outros das proezas nas partidas de Boliche.
Há relatos de bailes de formaturas, festas de Réveillon, do início de um namoro, de festas de casamentos, comemorações de aniversários e tem, também, aquela que se diz “made in Quitandinha”, pois seus pais passaram a lua- de- mel no Hotel e ela nasceu exatos nove meses depois.
Enfim, todos têm uma história para contar do Hotel Quitandinha. Umas verídicas, outras, nem tanto, como certas histórias macabras de jogadores que tudo perderam na roleta e queriam jogar-se da torre ou a de uma mulher envolta em véus brancos esvoaçantes que, dizem, perambulava à noite pelos corredores.
Carmen Miranda hospedou-se no hotel durante três meses, quando veio dos Estados Unidos, para descansar. Chefes de estado e personalidades do mundo inteiro e mais uma constelação de astros e estrelas internacionais, também, nele se hospedaram, como Lana Turner, Henry Fonda, Ava Gardner, Rock Hudson, John Wayne, Orson Welles, Rita Hayworth e Walt Disney, só para citar alguns.
Autores de novela da Rede Globo e escritores, ainda hoje, o procuram em busca de tranqüilidade e inspiração para os seus trabalhos. Seus amplos e luxuosos salões cobertos por mármore de Carrara e suas varandas de uma beleza incontestável, sempre serviram de cenário para os filmes brasileiros desde os tempos de Oscarito e Grande Otelo - tendo por eles passado todo o cast da antiga Atlântida.
Os salões, em estilo holywoodiano, foram decorados pela cenógrafa americana Dorothy Drappe que, na década de 40, era a responsável pelos projetos dos estúdios da Metro Goldwyn Mayer.
Seus ambientes são locações escolhidas por cineastas do porte de Jayme Monjardim, Arnaldo Jabor, Denis Carvalho e Domingos de Oliveira. Este, desde os anos 60, quando filmou “Todas as mulheres do mundo”. A emblemática cena em que a saudosa atriz Leila Diniz aparece nua na cama e recebe a declaração de amor do personagem de Paulo José, dizendo que, para ele, ela representava todas as mulheres do mundo, foi filmada numa das suítes do Hotel, com o mobiliário original, inclusive.
Prédio tombado pelo Patrimônio Histórico de Petrópolis, seus apartamentos - hoje em dia - pertencem a particulares e, a parte social: as varandas, os salões, o teatro e demais ambientes no andar térreo, foi adquirida, recentemente, pelo SESC - que lhe reservou um destino nobre: a Cultura.
O tempo passa, a vida continua e o Palácio Quitandinha segue, sem perder a majestade, colecionando novas histórias e conquistando novos admiradores.
Além da qualidade do clima de Petrópolis, a localização do Palácio Quitandinha conta um charme a mais: o fenômeno do fog - a névoa densa, vinda da Serra do Mar quando a temperatura cai, invade o Palácio dando ao lugar um toque londrino. Tem, também, um encanto especial que acontece durante apenas duas semanas ao ano, no inverno: é quando as cerejeiras florescem ao redor do lago com suas delicadas flores cor- de - rosa. Foi um presente do governo do Japão, onde a flor simboliza a felicidade.
Texto - Leila Faour
Fotos - Beth Q.Lilás
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