No more "tralhas"
Natureza

No more "tralhas"




Fiquei impressionada com o texto lúcido, engraçadíssimo e tão bem escrito pela jornalista Cora Rónai, ontem (28/01), sobre Tralhas.
Transcrevo, abaixo, um pedacinho:





"Do que é que precisamos para sobreviver? No nível mais elementar, água, comida, abrigo dependendo da ocasião e do hemisfério, cobertura contra sol e chuva. Os demais mamíferos do planeta se viram, no mais das vezes, sem os dois últimos itens. Indo um passo além, panos que nos protejam, curas para dores e machucados, histórias para contar e ouvir. Vasilhames para guardar a comida. Alguma forma de organização social para ordenar o convívio. Um adorno corporal, uma pintura rupestre.



Quando abrimos os olhos, já saimos das cavernas, ficamos sofisticados e, há milênios, corremos atrás do supérfluo. Estamos no mercado: em Istambul, em Helsinki, no Cairo, em Xangai, em Milão, ali mesmo na Senhor dos Passos. Cercados de quinquilharias que, depois de inspecionarmos com cuidado, levaremos para casa, onde passarão conosco uma breve temporada antes de encontrar morada final numa das pilhas de lixo que sufocam a Terra.

Nada sobre o planeta se reproduz com a alarmante velocidade da tralha. Patinhos de borracha, fitas do Bonfim, amuletos de toda sorte, canecas das mais variadas cores e formas, flores artificiais, enfeites de fibra óptica, mini-aspiradores que não funcionam nem quando nascem, relógios, ímãs de geladeira, cristais, buttons, canetas que escrevem quatro dias e morrem no quinto, canetas que até escrevem direito mas das quais ninguém troca a carga, modelos de carros e de aviões, espelhos, esculturas medonhas representando o que existe e o que não existe, bandejas, porta-documentos e, invariavelmente, uma quantidade de chaveiros que desafia o crescimento demográfico. A lista não tem fim."


Sim, aquilo que invariavelmente qualquer um de nós costuma comprar, sem pensar,  para dentro de suas casas ou a mania de vagar pelos shoppings da vida quando nada mais tem ali para se fazer ou adquirir, às vezes compramos mais do que precisamos.    E não falo de quem é colecionador de peças antigas ou raras, mas de simples mortais como nós que, viajando para qualquer lugar tem mania de trazer uma coisinha, uma lembrancinha, uma tralhazinha qualquer que um dia acabará na lata do lixo.

Hoje, com minha experiência e visualização para um mundo melhor, um planeta com mais qualidade de vida e, consequentemente, menos exploração humana, venho diminuindo e, acreditem, estou bem mais feliz assim, administrando melhor meus gastos e consumos. Sou capaz de ir a um shopping somente para olhar e me encantar com certas vitrines de objetos ou roupas, fazer um lanche gostoso e sair sem nada nas mãos.  Tenho tido mais critério nas escolhas de produtos, avalio antes onde ele foi fabricado e se percebo que posso estar comprando algo que reforce cada vez mais a escravidão de certos povos, como os haitianos,  que trabalham duramente e ganham migalhas para abarrotar as grandes lojas da 5a. Avenida em N.York ou os chineses que continuam sacrificando milhões de almas para crescerem e chegarem ao primeiríssimo lugar no mundo financeiro.

Não compro nem mais os enfeites de galinhas, aquelas lindinhas que vendem nas lojas de chineses e que eu tanto adorava colecionar (tenho uma prateleira cheia delas na cozinha).  Penso na pobre mulher chinesinha que fica lá, numa fabriqueta de fundo de quintal, ralando o dia inteiro e voltando para uma casa modesta, sem conforto nos dias frios que tem feito naquele país ultimamente.

(Operárias de uma fábrica na Mongólia-A.L.Garsmeur)

Já não me interesso  pelas xicrinhas antigas, nem bules, caixinhas de jóias ou qualquer objeto que acabará esquecido ou empoeirado nas prateleiras da casa. Eu tinha uma mania irracional em comprar 'coisinhas' em brechós, antiquários ou feirinhas.  Se viajava tinha que trazer alguma 'tralha' do lugar visitado. Não sei quantas bombas de chimarrão já trouxe na bagagem de volta e nunca tomei o tal chá, que acho amargo e não combina com o clima do Rio, o mesmo com os objetos em pedra sabão de Minas, fitinhas da Bahia, velas aromáticas, enfeites que quando saiam da mala eu pensava onde ia enfiar mais uma quinquilharia!  
Acho que tudo tem seu tempo e seu valor e assim vamos mudando nossos conceitos e comportamentos no decorrer da vida.


Muitas coisas estão para acontecer nestas novas décadas, o futuro está se desenhando complicado cada vez mais e a natureza e seus recursos já não parecem  tão infindáveis. E a Cora tem razão quando diz:  "Pode ser que, em termos de informação antropológica, a tralha tenha seu valor, e acabe sendo objeto de estudo daqui a mil ou dois mil anos – supondo que a humanidade dure até lá. Quando lotes perdidos de quinquilharias forem descobertos ali pelas bandas do Paraguai, arqueólogos traçarão retratos minuciosos da nossa civilização, baseados em miniaturas de esqueletos fosforescentes, capas para iPhone recobertas de cristais Swarowski e chapinhas para escova progressiva. Ainda bem que não estaremos mais por aqui, porque algo me diz que vamos ficar mal na fita."

Portanto, meu atual momento é clean e cool.





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