Natureza
Estação da Caesb deixa vazar esgoto para o Lago Paranoá
Os moradores do Conjunto 8 da QL 3 do Lago Norte acordaram ontem com um cheiro nada agradável. O odor que tomou conta da quadra foi causado por um enorme vazamento de esgoto, que começou após o rompimento de canos de ligação da Estação Elevada da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb). A cachoeira de esgoto contornou a estação e desceu até as águas do Lago Paranoá. Foi o terceiro rompimento em menos de três meses. Uma equipe de técnicos da empresa só chegou para tentar controlar o vazamento às 18h.
Ao se dar conta do problema, o livreiro Antonio Briquet de Lemos, 72 anos, se desesperou. Ele mora no local há 30 anos e já viu a mesma situação tantas vezes que perdeu a conta. "Há 15 anos, montaram essa estação e há 15 anos eu brigo por causa desses vazamentos", diz. Antônio, que fez inúmeras denúncias, inclusive à Promotoria do Meio Ambiente do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), mas nunca recebeu uma resposta. "A gente se sente desamparado. Cada um joga a responsabilidade para o outro e ninguém resolve nada", critica.
O derrame de esgoto no Paranoá vai além da poluição. O lago tem usos múltiplos, ou seja, é usado para pesca, lazer e para os esportes náuticos. Além de prejudicar os usuários do espelho d`água, esses vazamentos podem sair caro para o próprio governo. Isso porque a Caesb tem projeto para captar água do lago para abastecimento de mais de 600 mil pessoas. Se as águas estiverem poluídas, a companhia terá que gastar mais para torná-la potável e para distribuí-la à população.
"Nas duas outras vezes, a Caesb disse que os canos haviam estourado porque usaram material de má qualidade. Eles fazem o serviço de qualquer jeito só para dizer que o problema acabou", indigna-se. Há menos de duas semanas, a Caesb realizou uma obra nas tubulações de esgotos que deslocou os canos para a frente das casas. Até então, eles passavam nos fundos dos terrenos. Na casa de Rodrigo e Miriam Luz, foram três vazamentos no jardim. "Imagine se você está recebendo amigos e começa esse horror?", questiona Rodrigo. Quando canos estouram, relatam os moradores, a bomba é desligada. Para controlar o volume de dejetos, caminhões-fossa da Caesb se revezam para esvaziar os compartimentos.
O casal comprou a casa há pouco mais de um ano e os frequentes problemas com a estação fazem com que a família quase se arrependa de ter adquirido o imóvel. "Claro que o dono antigo não falou nada. Mas, nesse pouco tempo que estamos aqui, já passamos por isso quatro vezes. É desanimador. É um problema real que é preciso resolver", afirma Miriam. Procurada pela reportagem, a Caesb não soube detalhar o que provocou o rompimento e afirmou que tem feito obras de melhoria na estação.
Em janeiro, o Ibram multou a Caesb em R$ 102 mil por conta do despejo de esgoto no córrego Vicente Pires, que desemboca no Lago Paranoá. O material orgânico ficou exposto a céu aberto depois que uma das redes estourou. A companhia colocou uma barreira para evitar que os detritos parassem no córrego, mas a medida foi insuficiente. Em outubro do ano passado, a Caesb já havia sido multada em R$ 24 mil por conta do despejo de esgoto na QL 3 do Lago Norte - mesmo local atingido pelo rompimento da elevatória neste final de semana.
Não são apenas os vazamentos de detritos que atingem o Lago Paranoá. Um dos acidentes mais graves aconteceu em dezembro de 2006, quando a obra de um hipermercado na Asa Norte causou um grande dano ambiental ao espelho d'água. Querosene e piche escorreram para o lago por conta de uma forte chuva. A mancha de óleo atingiu 1km de extensão.
Fonte: Correio Braziliense
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