ALESSANDRA MAGRINI: A carreira é recente. Historicamente, engenheiros são mais estanques: civil, mecânico, químico... A engenharia ambiental é transversal, abrange áreas como química e botânica. As pessoas são contratadas por empresas que precisam gerir questões ambientais, que buscam certificações, que precisam obter licenças ambientais. A questão salarial está surgindo só agora. Penso que a média é um pouco mais alta que a de outras engenharias.
Há mercado para o engenheiro ambiental numa área que não seja de pesquisa? (Ana Carolina Deveza)
ALESSANDRA: O setor público tem feito concursos: Ibama, Inea (Instituto Estadual do Ambiente), EPE (Empresa de Pesquisa Energética), secretarias de Meio Ambiente, Petrobras. Há dois anos perdemos metade da turma da pós na Coppe por isso (risos). E qualquer empresa pode empregar. O mercado demanda boa postura ambiental. Uma empresa que quer o ISO 14.000 precisa de engenheiro ambiental.
ALESSANDRA: O grosso da engenharia ambiental são os processos industriais de resíduos, recursos hídricos, ar... As atividades que você descreve seriam mais para um biólogo ou mesmo um engenheiro florestal.
Quais os prós e contras da profissão? (Paulo Felipe Quintão)
ALESSANDRA: O maior contra é a crise. O meio ambiente passou a ser um negócio, está na boca do povo e gera oportunidades. Mas Bush não quis assinar o Protocolo de Kyoto, dizia que freava o desenvolvimento. Há essa ideia. Se a crise não melhorar, o meio ambiente pode ser posto de lado. Agora, particularmente, acho que não. Empresa que se mostra suja fica mal.
ALESSANDRA: Certamente ajuda, dirige mais. A engenharia ambiental, como foi pensada no Brasil, tem nuances. O curso da PUC-Rio é um pouco diferente do da UFRJ. Uns vão mais para a engenharia em si, outros mais para a gestão. Mestrado e doutorado podem aprofundar determinados aspectos: resíduos, efluentes, poluição atmosférica.
ALESSANDRA: Como é carreira nova, provavelmente outros podem disputar as vagas. Depende do que a empresa busca. Geólogo, geógrafo, biólogo, muita gente atua na área. Ninguém é dono do meio ambiente. Antes, vários engenheiros trabalhavam com isso. Depois vieram os economistas. Agora o boom é de advogados, que querem trabalhar com direito ambiental, e ainda não há muitos cursos na área.
ALESSANDRA: Como é concebida por aqui, a engenharia ambiental não tem muita especialização. O profissional, numa empresa, tem que saber trabalhar com ar, água, resíduos sólidos, saúde e meio ambiente. Agora, seguramente, mudança climática é uma área muito relevante. Só é importante não cair em modismo. A certificação ISO 14.000 também foi moda, ainda é. E gera emprego. Na área empresarial, gera mais emprego do que mudança climática. Crédito de carbono também está aí.
ALESSANDRA: A gestão é recente, trabalha com instrumentos que os setores público e privado utilizam, como licenciamento ambiental. Cabe a esse profissional também gerir um estudo de impacto, que é atividade interdisciplinar. A área de meio ambiente tem tantos componentes técnicos que acho mais fácil um engenheiro assumir a parte de gestão do que um gestor assumir a engenharia.
ALESSANDRA: Acho que quem trabalha melhor com o desenvolvimento de programas é o geógrafo. Sou mais usuária do que desenvolvedora. Já a parte de estabelecer modelos para o geoprocessamento acho que é mais da Engenharia.
ALESSANDRA: A atividade é impactante, mexe com paisagem, saúde, imagem das empresas. Tive um aluno responsável pela área de meio ambiente em empresa petroquímica, que foi "capturado" pela Vale. O setor está em alta. O contra é a crise.
Fonte: O Globo