A crise econômica imprimiu pessimismo no crescimento dos países, criando incertezas que também afetam o meio ambiente. Apesar de quedas na produção industrial e no consumo de bens, ambientalistas estão divididos quanto ao futuro. Os mais otimistas apostam em mudanças no padrão de produção, enquanto os receosos temem atrasos em acordos ambientais e menor investimento em preservação. Mas eles concordam em um ponto: a diretriz virá do novo governo dos Estados Unidos. Pilar da crise, o país deverá rever seus posicionamentos ambientais, como aposta o professor da Universidade de Brasília Gustavo Souto Maior, também presidente do Instituto Brasília Ambiental. As multinacionais, sobretudo as automobilísticas, ignoraram solenemente o gasto de combustível e a emissão de gases. Agora, estão pedindo arrego. Em recessão, o consumidor optará por carros econômicos explica.
Otimismo com Obama
Souto Maior se diz otimista quanto ao governo que assumirá o comando dos EUA no dia 20 de janeiro. O presidente eleito Barack Obama já sinalizou que vai rever os processos de produção afirma. De certa maneira, a crise econômica abrirá caminhos para as discussões sobre o modelo de consumo vigente. Para o coordenador do Programa de Educação para Sociedades Sustentáveis da WWF, Irineu Tamaio, o momento é propício para buscar alternativas de energia, transporte e gestão de lixo. Se o debate for conduzido pelos EUA, as chances das diretrizes ganharem o cenário mundial são maiores. É o país líder nas ações internacionais e tudo indica que o novo presidente incluirá políticas ambientais afirma Jorge Madeira Nogueira, professor do Departamento de Economia da UnB. Com o potencial de suas universidades e a alta capacidade de investimento, as nações que não caminharem nesse sentido ficarão muito atrás diz Nogueira.
Cadeia produtiva
As previsões para mudanças na cadeia produtiva dependem de quanto tempo durará a crise econômica. Um cenário positivo coincide com uma crise de no máximo dois anos. Caso a situação perdure por quatro ou cinco anos, as expectativas são de atrasos na adoção de práticas sustentáveis. Hoje, empresas e países adotam o discurso ambientalista. Se a situação econômica apertar por muito tempo, isso pode desaparecer teme Nogueira, responsável pelo mestrado em Gestão Econômica do Meio Ambiente da UnB. Segundo o especialista, ações de recuperação ambiental requerem investimento e, com poucos recursos, as nações vão retardar, reduzir ou anular essas práticas. A própria Comunidade Européia se apresentou como protetora do meio ambiente e, agora, recua nos projetos conta o professor Nogueira. Ele diz acreditar que as metas ambientais acabarão passando por negociações ainda mais longas e os acordos internacionais serão adiados se a crise persistir. Charles Mueller, também professor do Departamento de Economia, alerta para o risco de os governos adiarem decisões para recuperação do meio ambiente. As estimativas de hoje já são catastróficas. Se retardarmos ações será ainda mais difícil evitar rupturas na natureza afirma. A previsão da WWF, por exemplo, é de que o consumo ecológico hoje excede em 30% a capacidade de regeneração do mundo. Se o ritmo continuar, em 2030 haverá colapso. Para o professor, os efeitos negativos da crise no que se refere aos recursos são imediatos. Nesse cenário, os projetos que estavam em curso para reduzir a degradação tornam-se luxo, diz ele.
Fonte: Jornal do Brasil / UnB Agência / Ibram