Lixo é o que não falta no Distrito Federal. Só em 2008, mais de 2 milhões de toneladas foram coletadas pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU). Um aumento de 43% se comparado com 2007. Desse total, somente 13.452 toneladas de lixo foram recolhidas por coleta seletiva, o que corresponde a 0,6% do total de lixo coletado no ano passado. Por ano, o número também é assustador. Cada habitante produz em média 850 quilos de lixo. Por dia, esse número é de 2,77 quilos por pessoa.
Lixo demais que tem vários destinos. Mas a menor parte dele ainda é destinada às cooperativas de catadores de lixo e, subsequentemente, para as usinas de reciclagem. Com um sistema ainda precário de transporte (o caminhão usado para a coleta é o mesmo que recolhe o lixo não separado) e de distribuição de materiais recicláveis,o projeto de coleta seletiva também sofre com a falta de consciência da população.
A separação entre lixo seco e lixo orgânico nas residências ainda é um grande problema enfrentado pela coleta seletiva do lixo do SLU. Hoje, nos locais onde há a coleta seletiva no DF (quadras residenciais de 100 a 400 das asas Sul e Norte), o número de pessoas que fazem a separação do lixo chega a 70%. Mesmo com a participação crescente, ainda falta muito para o número de lixo que passa pela coleta seletiva aumentar.
Seleção ecológica
Segundo a diretora do SLU, Fátima Có, a coleta seletiva é importante em três fatores: social, ambiental e técnico. "Nessa parte social, a gente passa o lixo para os catadores, o que gera uma renda para eles. No ambiental, diminui a quantidade do lixo, o que é bom para o meio ambiente. E no técnico são as condições que damos para o cidadão participar, fazendo a separação do lixo em casa", explica Fátima.
Hoje, vários prédios residenciais já adotaram as lixeiras que separam o lixo seco do orgânico. Mesmo em lugares onde não há a coleta seletiva, é importante que as pessoas façam a separação do lixo. "O lixo que não é recolhido pela coleta seletiva vai para outros locais, como usinas e aterro, onde há catadores trabalhando. Por isso, a separação ajuda bastante no trabalho deles", afirma Fátima.
Falta conscientizar
Para Carolina Borges, coordenadora da Área de Responsabilidade Social da empresa Corpore Governança Condominial, falta mais participação da população na coleta seletiva de lixo. "Muito se deve à falta de informação e à coleta precária realizada pelo GDF", explica ela.
O trabalho com cooperativas na coleta de lixo, realizado pela empresa, é um dos pontos que Carolina considera forte. "O que é interessante com as cooperativas é que além do meio ambiente, é possível manter uma rede de economia solidária que dá sustento a muitas famílias".
Separar o lixo para reciclagem é uma ato que pode ser benéfico para todos. "Com a coleta seletiva, todos saem ganhando: meio ambiente, economia inclusiva e solidária e a sociedade de um modo geral. O lixo pode mudar a vida das pessoas e ainda se transformar em materiais bonitos, duradouros e ecologicamente corretos como a madeira plástica feita a partir do PAD, o plástico das sacolinhas de supermercado", lembra Carolina.
Mudanças no sistema
Para melhorar a coleta seletiva de lixo, o Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal está cadastrando as cooperativas de catadores de lixo. "Todo a parte de planejamento já está pronta. Vamos contratar mão de obra das cooperativas para que eles façam o recolhimento do lixo e a separação. Só falta implantar", diz Fátima Có.
A meta é fazer com que todo o DF tenha coleta seletiva. Hoje, a coleta é realizada na Asa Sul, Asa Norte, Lago Norte e em parte do Lago Sul e Dom Bosco. Os locais ainda são poucos e não chegam a representar uma porcentagem significativa do volume total do lixo produzido no DF.
Moradora ensina como agir
O bom exemplo começa em casa. A professora Laila de Mauro, 53 anos, faz a separação do lixo seco do orgânico há seis anos, desde que se mudou para o Sudoeste. A iniciativa foi do prédio. "O condomínio solicitou que todos os moradores fizessem a separação. Aí me acostumei a separar o lixo e continuo fazendo até hoje", lembra Laila.
Em casa ela separou duas latas, uma para cada tipo de resíduo. As embalagens de pacotes de biscoito e potes de iogurte são lavados e postos para secar antes de serem colocados no lixo. Na parte orgânica, são colocados resto de comida e papéis que não podem ser reaproveitados.
A idéia da coleta seletiva do lixo é importante, na opinião da professora. "A discussão de preservação do planeta é algo antigo. Reciclar o lixo é um hábito importante para o meio ambiente", afirma.
Mesmo que a coleta não seja feita na quadra, pelo menos o bom hábito está cultivado. "Já me acostumei a separar o lixo, mesmo que não vá para a reciclagem. Pelo menos faço a minha parte", diz Laila.
Dinheiro para o lanche
No lixo coletivo do prédio, a lata fica cheia de resíduos orgânicos. O lixo seco fica no chão do local destinado à lixeira de cada andar. Já que não há a coleta seletiva, os materiais recicláveis são reaproveitados pelos próprios trabalhadores do prédio, que vendem o lixo para as empresas de reciclagem.
Em geral, os itens mais vendidos são latas de alumínio, papel e papelão. "A gente vende para não ter que jogar fora", explica a auxiliar de limpeza Mirtes Pereira da Silva.