Natureza
As Sombras desta última semana
(Imagem Extra)
Escolhi esta linda imagem para lembrar que os animais não podem ser culpados pela ignorância humana e as palavras insensatas de alguns, como um tal governador que disse e foi severamente criticado, ao afirmar que "Quem faz uma maldade dessas não é gente, é um bicho." - Nunca! -
Na minha humilde percepção e opinião sobre o triste ocorrido nesta última semana e do que vejo crescer a cada dia neste nosso complexo país, é que as estruturas sociais malditas que só enfatizam cada vez mais a desigualdade e injustiça nesta terra de ignorantes, fazendo com que se alimente cada vez mais o rancor desses que continuam oprimidos, excluídos desde que nascem, sofrendo a perversão do bullying nas escolas onde deveriam ensinar o respeito, a educação moral e cívica. Pelo menos era assim no meu tempo, quando o país ainda estava longe de ser esta 'sétima potência' tão aclamada.
Mas agora, os governantes só pensam na economia e no patamar que estão galgando no mundo, sem atuar contra essas deformidades em nossa sociedade, deixando o caminho livre e desprotegido para o suicídio de toda uma civilização. Torna-se URGENTE um olhar maior e sério sobre a EDUCAÇÃO em nosso país e é isso que diz Cristovam Buarque em seu maravilhoso e realista texto que reproduzo abaixo.
AS VERGONHAS QUE TEMOS
No século XIX, Victor Hugo se negou a apertar a mão de D.Pedro II, porque era o Imperador de um país que convivia naturalmente com a escravidão. Hoje, Victor Hugo não apertaria a mão de um brasileiro para parabenizá-lo pela conquista da 7a. posição entre as potências econômicas mundiais, convivendo com total naturalidade com a tragédia social ao redor. Estamos à frente de todos os países do mundo, menos seis deles, no valor da nossa produção, mas não nos preocupamos por estarmos, segundo a Unesco, em 88o. lugar em educação.
Somos o sétimo no valor do PIB, mas ignoramos que, segundo o FMI, somos o 55o. país no valor de renda per capita, fazendo com que sejamos uma potência habitada por pobres. Mais grave: não vemos que, segundo o Banco Mundial, somos o 8o. pior país do mundo em termos de concentração de renda, melhor apenas do que Guatemala, Suazilândia, República Centro-Africana, Serra Leoa, Botsuana, Lesoto e Namíbia.
Somos a sétima economia do mundo, mas de acordo com a Transparência Internacional estamos em 69o. lugar na ordem dos países com ética na política por causa da corrupção. A nota ideal é 10, o Brasil tem nota 3,7.
Somos a sétima potência em produção, mas, quando olhamos o perfil da produção, constatamos que há décadas exportamos quase o mesmo tipo de bens e continuamos importando os produtos modernos da ciência e da tecnologia. Somos um dos maiores produtores de automóveis e temos uma das maiores populações de flanelinhas fora da escola.
Um relatório da Unesco divulgado em março mostra que a maioria dos adultos analfabetos vive em apenas dez países. O Brasil é um deles, com 14 milhões com o agravante de que, no Brasil, eles nem ao menos reconhecem a própria bandeira. De 1889 até hoje, chegamos à sétima posição mundial na economia, mas temos quase três vezes mais brasileiros adultos iletrados do que tínhamos naquele ano; além de 30 a 40 milhões de analfabetos funcionais. Somos a sétima economia e não temos um único Prêmio Nobel.
Segundo um estudo da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que pesquisou 46 países, o Brasil fica em último lugar em percentagem de jovens terminando o ensino médio. Estamos ainda piores quando levamos em conta a qualificação necessária para enfrentar os desafios do século XXI. Segundo a OIT, a remuneração de nossos professores está atrás de países como México, Portugal, Itália, Polônia, Lituânia, Letônia, Filipinas; a formação e a dedicação deles provavelmente em posição ainda mais desfavorável, por causa da péssima qualidade das escolas onde são obrigados a lecionar. Somos a 7a. potência econômica, mas a permanência de nossas crianças nas escolas, em horas por dia, dias por ano e anos por vida está entre as piores de todo o mundo. Além de que temos , certamente, a maior desigualdade na formação de cada pessoa, conforme a renda de seus pais. Os brasileiros dos 10% mais ricos recebem investimento educacional cerca de 20 vezes maior do que os 10% mais pobres.
Somos a sétima potência, mas temos doenças como a dengue, a malária, o mal de Chagas e a leishmaniose. Temos 22% de nossa população sem água encanada e mais da metade sem serviço de saneamento. Segundo o IBGE, 43% dos domicílios brasileiros, 25 milhões, não são considerados adequados para moradia; não têm simultaneamente abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo.
Esta dicotomia entre uma das economias mais ricas do mundo e um mundo social entre os mais pobres só se explica porque nosso projeto de nação é sem lógica, sem previsão e sem ética.
Sem lógica, porque não percebemos que 'país rico é país sem pobreza', como diz a presidenta Dilma.
Sem previsão, por não percebermos a grande, mas atrasada, economia que temos, incapaz de seguir em frente na concorrência com a economia do conhecimento que está implantada em países com menor riqueza e mais futuro. E sem ética, porque comemoramos a posição na economia esquecendo as vergonhas que temos no social.
Cristovam Buarque, Engenheiro, Economista, Educador, Professor Universitário e Senador da República - Jornal O Globo de 09 de abril de 2011.
Agora amigos, me digam, de que adianta estarmos nesta posição mundial frente à economia, se tanto ainda tem que ser feito para que nosso povo viva condignamente e seja respeitado como cidadão no mundo?
Que destino é esse sem rumo, desenfreado, dolorido, sofrido dessas pessoas que adquirem bens materiais pensando que estão ascendendo socialmente se continuam pobres, sem educação e sem cultura em seu íntimo?
Será que a presidente Dilma lê o que um homem tão bem informado e inteligente como Cristovam Buarque escreve ou fica atenta apenas aos números dos relatórios econômicos e viagens de interesses pelo mundo afora?
Triste país sem lógica, sem previsão e sem ética!
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