Vou de Táxi - IV
Natureza

Vou de Táxi - IV




Pedi um táxi para às 13:30hs, horário difícil, pois muitos taxistas estão almoçando em algum restaurante ou bar e tem muito poucos disponíveis. A moça da cooperativa de táxis me avisou que poderia demorar de 30 a 40 minutos e eu estava ligando com um lastro de quase 1 hora e meia de antecedência, mas mesmo assim disse-lhe que tudo bem, eu aguardaria até 13:20hs, passando disso eu desceria à rua e pegaria o primeiro que visse pela frente. Eu não gosto de me atrasar para compromissos.
Prefiro ligar para uma empresa e solicitar o serviço porque acho mais seguro e os táxis costumam ser bem limpinhos e com boa aparência, além do ar condicionado em dia, pois ninguém merece andar num calor de mais de 30 graus sem um arzinho.

Neste dia, esperei até às 13:20hs e nada, nenhum táxi apareceu, então o jeito foi descer o prédio e esperar na esquina que, por sorte, tinha um taxista saindo de um restaurante aqui próximo e se dirigiu ao seu carro.
Perguntei-lhe se já estava disponível e ele logo respondeu que sim, abrindo-me a porta para eu entrar.

Seu carro era cheiroso, o ar geladinho e tinha até revista Caras para eu passar o tempo. Adorei!

E ele, o rapazola, da idade do meu filho ou por aí, bonito, de boa aparência e modos. Pensei: Ah que beleza, tudo perfeitinho!

Elogiei seu carro e as revistas oferecidas, brincando ainda perguntei-lhe se tinha champagne, e ele riu dizendo-me que da próxima vez iria providenciar para mim. Disse-lhe para onde seguir e ele tocou o 
bólido que tinha um empuxo macio e rápido, coisa de carro novo, cheirando à fábrica ainda.

Eu- Cheirinho de carro novo é muito bom, né?
Tx- Tirei este (da concessionária) há 2 meses.
Eu- E você ainda está curtindo tudo isso, fico imaginando o medo que dá alguém bater ou arranhar um carro novinho assim, circulando por aí, pra cima e pra baixo. Tem tanto carro nas ruas hoje em dia!
Tx- Por isso fizemos logo um seguro e só falta pagar a última parcela, mas vale a pena, porque eu fico menos preocupado neste trânsito louco.
Eu- Ah que interessante, seu carro tem uma espécie de bolsinha para colocar as revistas e é mesmo muito bem equipado!
Tx- Na verdade, este carro é do meu pai, ele o comprou e eu passei a dirigi-lo, enquanto ele dirige o mais antigo.
Eu- Ahhh sei!
Tx- É, mas este aqui não é só o meu emprego. Nós temos também uma micro empresa e trabalha minha irmã, meu pai e eu, quando saio daqui à tarde.
Eu- Poxa, que ótimo!  Família que trabalha unida tem grandes chances de crescer no negócio.

Não perguntei-lhe que tipo de negócio era, embora ele estivesse louco pra me contar, mas não tive vontade nenhuma de saber.
Mantive-me calada por um tempo com uma revista Caras nas mãos, pensando como as pessoas se viram nos trinta hoje em dia para ganhar dinheiro, pois embora tenham alardeado aos quatro ventos que o país anda muito bem financeiramente, que tem dinheiro sobrando para emprestar aos pobres europeus e que sobra também emprego para todo mundo facilmente, não é bem isso na prática, pois as pessoas trabalham muito por aqui, têm mais de um emprego e pouco tempo para o lazer. Se pararmos para olhar os ônibus, as barcas, os meios de transportes que carregam trabalhadores pra lá e pra cá, veremos como o trabalhador chega tarde de seus serviços, anda em transportes superlotados e o respeito à carga horária não existe. 
Quantas moças, mulheres jovens que têm filhos e uma casa para administrar, chegam tarde demais do serviço, cansadas de um dia pesado, mesmo que estejam sobre saltos belíssimos e ostentando uma bolsa de grife comprada com o suor de seu trabalho.  Pouco tempo têm para aproveitar o convívio familiar e um descanso merecido.
Constatações que faço do alto de meus entas e poucos anos, embora tenha tido grandes esperanças de um futuro melhor, pelo menos para nós, mulheres. Mas isso não importa, parece que todos estão satisfeitos e é assim mesmo que caminha a humanidade neste século - ganhar e gastar, consumir e ser consumido. Como dizia um grande filósofo BBB - faz parrrrte!

Eu- Cuidado aí moço, não precisa correr!  

No ímpeto de sua juventude, percebi que ele era daqueles que enfia o pé no carro novo e gosta de desfilar o bacana, mas quando eu desconfio que posso correr risco de me machucar, reclamo mesmo. E ele fez uma manobra tão rápida para se colocar ao lado direito de outro carro que estava parado no sinal, 
nem sei pra quê isso, mas é uma maneira de dirigir frequente  por aqui, os motoristas correm para parar no sinal à frente, quase nunca ficam na mão correta, estão sempre procurando um buraquinho pra se enfiar.
Motoristas de táxi então, nem se fala!

Tx- Não, pode deixar! É que às vezes a gente tem que correr pra sair fora da confusão.

Pensei com meus botões: Confusão ele vai arrumar se amassar esse carro novinho que o pai colocou em suas mãos, mesmo tendo um bom seguro!

Eu- Ok, obrigada, valeu, chegamos rapidinho e seu carro é muito legal!  Mas, lembre-se que não vale a pena correr tanto viu garoto!

O bonitinho sorriu, entregou-me o troco e arrancou com vontade atrás de um novo passageiro.

Espero que o carrão tenha vida longa, mas considerando o motorista tão espevitado ou ainda inábil, sei não ... tadinho do pai que botou tão bela máquina em suas mãos! 
Ah, e a revista Caras não deu nem pra passar das primeiras folhinhas! Queria tanto saber quem casou ou terminou o casamento agora!



(Imagem Pinterest)



                     
*************












loading...

- Vou De Táxi Viii
Pessoas queridas, tirei uns dias de férias neste adorável mês de fevereiro em que os dias quentes neste lado do Equador parecem esquentar os miolos das pessoas e algumas se transformam em seres perigosos socialmente, então fui para paragens mais...

- Vou De Táxi Vii
-Facebook- Caros amigos, pegar um táxi no Rio é como dar um passo no escuro.Mas, eu, tenho sido corajosa, peguei 4 hoje para ir de um ponto ao outro da cidade, todos trajetos pequenos, nada caros, porque por incrível que pareça, táxi carioca não...

- Vou De Táxi Iii - O Homenzinho E Seu ídolo
E numa tarde dessas lá volto eu, desta vez com mamãe à tiracolo, em mais uma visita ao dentista. Entramos num táxi que estava parado à espera de passageiros no ponto mais próximo, para não cansar minha mãe que não aguenta andar...

- Homens E Seus Brinquedinhos
(Imagem-Philippe Lissac) Ao ver esta imagem lembrei-me imediatamente dos tempos em que vivia a catar carrinhos espalhados pelos cantos da casa, especialmente no quarto do meu filho, que era apaixonado por carrinhos de metal coloridos. Aliás, acho...

- Já Estou Pensando Alternativamente
                         (A Estação do Catamarã (no centro) em Charitas-Niterói e Baía de Guanabara com a vista do Rio de Janeiro)...



Natureza








.