Na era do Rádio.
Natureza

Na era do Rádio.





Eu costumo dizer que não sou velha, sou assim, um pouco, antiga.

Mas, peraí!  Quem de vocês que me lê todos os dias, nasceu neste século?  Ninguém, certo!
Todos, naturalmente, nasceram no século passado, ou seja, são de outro século, como eu, somos do século passado e isto quer dizer que estamos no mesmo barco, a diferença é que um ou outro nasceu numa década diferente, mas o que nos iguala é o século.  Caramba, já pensaram como isto pesa, ser do século passado!? Lembrem-se disto para o que vou contar abaixo.



Quando eu nasci, na década de 50, a televisão era raridade ainda no mundo, poucos a possuiam na América e era assim um grande sonho de consumo para todos, mas enquanto isto o que imperava mundialmente era o Rádio

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Vocês, mais novos, já devem ter visto este estranho objeto em filmes antigos ou de guerra, geralmente uma caixa de madeira retangular de onde advinha um som não muito claro, parecendo bem distante, às vezes entrecortado pelas ondas sonoras interrompidas.  As famílias costumavam parar numa determinada hora  para ouvi-lo em conjunto, pois tinha o tal Repórter Esso que era igual ao Jornal Nacional de hoje da televisão, só que narrado, sem imagens.  A gente ouvia tudo quietinho para não interromper as notícias que vinham pela BBC de Londres e que um locutor nacional, com voz postada expunha os acontecimentos do dia e nossos pais queriam ouvir atentamente.
Isto, geralmente acontecia às 20 horas, antes era o horário de telenovelas açucaradas e que até mesmo os mais velhos gostavam de acompanhar. Quem não se lembra do Jerônimo, o Herói do Sertão; As aventuras do Anjo ou o O Moleque Saci?!  Tinha por trás das vozes dos atores a sonoplastia, sons emitidos, feitos por outras pessoas que faziam a gente imaginar todo o cenário, música de suspense, barulhos de cascos de cavalo, música incidental para um dramalhão como as tais novelas O Direito de Nascer e Redenção que duraram um tempão e tinha dias que fazia a gente chorar, noutros deixava um suspense incrível para o próximo dia.  Tudo isto trabalhando só a imaginação, afinal a gente não via nada, nem sabíamos a cara dos atores, já que não havia tanta revista como hoje que só mostra a vida ou besteiras que um atorzinho qualquer faz e acontece.




Mas, este fenômeno ocorria também na América, pois Orson Welles foi precursor das mesmas com uma radionovela  intitulada A Guerra dos Mundos, uma visão infernal de ataques alienígenas e que deixou o povo na época apavorado e hipnotizado diante do aparelhinho.

A gente aqui neste país despreza muito a história, ela acaba-se perdendo com o tempo, pelo desinteresse coletivo, porque as pessoas sentem vergonha de contá-las e serem chamadas de velhos.  Pois eu não, não tenho vergonha dessas lembranças, pois elas fizeram parte da minha vida e da minha história.  E acho que deveríamos fazer como os índios que contam suas histórias passadas para seus filhos, para seus netos e bisnetos, na tentativa de manterem vivos os acontecimentos, feitos e tradições.

Sentávamos todos numa mesma sala para ouvirmos histórias ou programas que hoje seriam considerados bobos por suas temáticas simples,  de entretenimentos saudáveis, mas que faziam a família  trocar idéias, rirem ou se emocionarem juntos.  A televisão é muito legal, mas está tudo ali conforme eles querem que vejamos, tudo explícito, mastigado e do jeito que nos impõem.



Foram momentos preciosos e que adoro relembrar hoje e contar para que todos saibam como era a vida naquela época, e para que fatos assim tão interessantes não se percam na escalada rápida do tempo.


(Imagens Corbis)



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