A chuva a rolar e o vento a cantar
Natureza

A chuva a rolar e o vento a cantar


(Imagem Todd Weselake)

Na minha infância os verões eram tão diferentes.  Fazia muito calor durante o dia no Rio de Janeiro, mas invariavelmente chovia à tardinha e essas chuvas de verão eram fortes, escorriam como um rio caudaloso na rua de minha memória, sem calçamento por longo tempo, entre as pedrinhas, formando pequenas quedas d'água que eu espiava através da janela lateral do meu quarto com um certo respeito.
Minha mãe guardava coisas de roça, de avó ou bisavó, como por exemplo; tapar os espelhos com toalhas ou esconder em gavetas tesouras e objetos de aço. Dizia que atraia raios.  Eu não entendia bem nada daquilo,
mas confesso que tinha  medo de trovões, ficava quietinha no meu canto, esperando o barulho enorme que viria depois da luz azulada dos raios e minha vontade era de entrar no guarda roupas se estes temporais fossem à noite.

Os temporais de agora ainda vêm com raios e trovões, mas sua maior característica é a quantidade absurda de água que cai e às vezes por muito tempo, por isso vemos tanta destruição em certos locais. Outro fato interessante é que podem ser localizadas em um determinado ponto, como num bairro apenas e noutro bem ao lado nenhum vestígio de chuva.

Neste domingo um temporal repentino se formou lá na serra. Depois de uma manhã quente e ensolarada, deu até piscina, mas lá pela 15 horas desabou o céu, com nuvens densas e vento forte que açoitou os pinheiros e outras árvores por quase 50 minutos.


Embora eu tema pelas pessoas que não têm boas casas para se abrigar numa hora dessas, fico também atraída pela beleza da manifestação da natureza num momento assim, onde água, terra e vegetação se movimentam juntas como num balé harmonioso ao som da 6a. Sinfonia de Beethoven bem diante de minha janela. E, claro, cliquei!



Esta foto acima, meu filho fez logo após o temporal e este grande pinheiro ficou encharcado, chegando a abrir seus galhos e deixar no chão alguns pequenos ninhos.  Tanta vida mora ali em seu interior e a chuva, benéfica por um lado, atrapalhou naquele momento o habitat desses pequenos seres, mas isto faz parte do ciclo da natureza e não há como interferir no processo.

Passado o forte temporal que foi praticamente pontual ali naquele lugar, pois constatei que a poucos quilômetros de minha casa nenhum pingo de chuva havia nas ruas ou na terra, o sol reapareceu atrás de algumas montanhas, o ar ficou deliciosamente fresco e a mata mais exuberante ainda.

A chuva deste domingo foi parecida com as de meu tempo de criança, forte, barulhenta e que seguiu-se de uma expectativa de um entardecer calmo, com cheiro de mato molhado e tudo renovado, inclusive nossas almas que ficaram mais leves diante de tanta beleza.

E pra terminar este post, deixo-lhes a alegria expressa por Guimarães Rosa diante da chegada do céu cinzento e do cheiro d'água lá na serra:

Chuva

Vai chover chuva de vento.
Já estou sentindo um cheiro d'água,
que vem do céu cinzento.
As formigas lavadeiras cruzam o quintal
em filas compridas de correição.
Minhocas brotam à flor da terra.
- Eh aguão!...
A chuva vai vir da banda da serra,
porque o joão-de-barro abriu a sua porta
virada para o sul.
As sementinhas do meloso seco
devem estar lançando na poeira.
Eu não ouvi o primeiro trovão,
mas o zebu está escutando,
com a cabeça encostada no chão.

Três urubus passam no alto,
em vôo lento,
em reta longa.
Vão para as lapas dos lajedos.
"Vai fazer tua casa, Urubu!...
Tempo de chuva aí vem, Urubu!..."

Já deve estar chovendo nas cabeceiras da serra,
porque o ribeirão engrossa, cor de terra.
Vai chover chuva de vento.
Os bois vêm correndo, pasto abaixo,
procurando as árvores do capão.

Vai invernar...
Eu hoje amanheci alegre,
querendo cantar...
O vento já chegou nas casuarinas,
e o sapo saiu de debaixo da laje
para um buraco no meio do pátio
onde vai se encher uma lagoa.
- Eh aguão!...
- Olá, José, arreia meu Cabiúna,
liso do casco à testa,
preto do rabo à crina,
que eu vou sair pelo cerrado afora,
a galopar, com a chuva me correndo atrás...
Ela já vem, branquinha, cheirando a água nova,
e a serra está clarinha, neblinando...
A chuva vem rolando, vem chiando,
e o vento assoviando
- Galopa, Cabiúna, que a água vem vindo,
e as sementinhas do meloso seco estão dançando...

Guimarães Rosa
(1908-1967)




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